Subtipo e Tritipo

Variantes Instintivas

Podemos dizer que no Eneagrama existem duas expressões de subtipo (ou mesmo três, se considerássemos as asas), sendo elas a Variante Instintiva e o Tritipo. Ao leitor dedicado, este tópico já foi mencionado em “Estrutura dos Eneatipos”, mas de modo nada introdutório. Assim sendo, recomendo a leitura desta introdução ainda assim.

Costumamos chamar as variantes instintivas apenas de variantes, ou então de subtipos, enquanto o Tritipo é chamado por seu próprio nome (autoral). As variantes dão origem a três subtipos para cada Eneatipo, sendo elas Conservacionista (SP), Social (SO) e Sexual (SX). Os instintos são orientações de sobrevivência que, conforme sua priorização, definem o foco do ego do indivíduo. Todos temos todos os três instintos, mas eles podem variar em sua força e pronunciamento, sendo que uma pessoa pode ter um instinto primário muito forte, enquanto os outros dois parecem mais discretos, ou mesmo ter os dois instintos primários muito fortes, de modo a eclipsar o terceiro. Quando vemos um SX/SO, por exemplo, tem-se implícito o instinto SP em posição mais baixa. Chamamos essa ordem de empilhamento (em inglês, stack).

Cada instinto pode ser relacionado a uma tríade, sendo o SX intestinal, o SO cardíaco e o SP cerebral. Ao leitor que quiser explorar o significado dos três instintos, disponibilizo o capítulo “Variantes Instintivas”, do meu livro “Integrando Tipologias” (2023). No entanto, deixo claro que, embora seja bom compreender os instintos, os subtipos não podem ser bem entendidos somente a partir deles. Para compreender os subtipos do Eneagrama, é necessário tomar conhecimento dos Direcionamentos Triádicos. As variantes instintuais se aplicam, é claro, mas apenas elas não servem para realizar uma avaliação distintiva dos tipos.

Os Direcionamentos Triádicos são Ação, Emoção e Intelecto. Cada Eneatipo possui um foco instintivo específico que destaca qual a ordem desses direcionamentos. Por exemplo, um SX5 é o E5 de variante emocional, enquanto o SX4 é o E4 intelectual, e o SX6 é o E6 ativo. Ainda que cada um deles tenha um direcionamento distinto, o instinto sexual ainda é pronunciado, embora possa ser confundido na tentativa de uma análise por soma — i.e., raciocinar “como um E4 com instinto A, B ou C seria”. Portanto, é necessário entender os direcionamentos antes da expressão instintual. Na verdade, são bem simples! Um tipo Ativo tem foco em seu Mecanismo de Defesa; um tipo Emocional tem foco em sua Paixão; e um tipo Intelectual tem foco na Fixação. Um tipo Ativo costuma ser mais narcotizado em relação às suas Paixão e Fixação; um tipo Emocional costuma ter um aspecto central de desejo em relação à Paixão, sendo este justificado pelos dois outros pontos; e um tipo Intelectual tende a ser convicto sobre os aspectos de sua Fixação, valendo-se dela para manifestar as vontades implícitas da Paixão e, por sua vez, sendo equilibrado pelo Mecanismo de Defesa.

Tritipo

A segunda fase de diferenciação com a qual contamos no Eneagrama é o Tritipo. Neste sistema, cada indivíduo possui não um, mas três Eneatipos em sua estrutura egoica, os quais são utilizados em ordem de preferência. Cada Eneatipo pertence a um centro de inteligência distinto, formando uma combinação única que influencia a personalidade. Mas o que exatamente isso significa? Já observamos como o ego dos Eneatipos é composto de modo triádico (Paixão, Fixação, Defesa) e como suas variantes instintivas (SO, SP, SX) destacam a orientação dessa estrutura (Emoção, Intelecto, Ação). A última das compreensões triádicas é o tritipo, que nos apresenta o ego numa escala não mais estrutural, mas funcional. Poderíamos considerá-lo uma escala “macroscópica” da lei do três.

O Tritipo foi apresentado por Katherine Fauvre com base no Trifixo, por sua vez desenvolvido por Óscar Ichazo na Protoanálise. Enquanto o Trifixo considera um sistema que se relaciona somente entre fixações do ego, o Tritipo é mais dinâmico e amplo. O Trifixo propõe que uma pessoa possui três fixações em seu ego, sendo dessas uma para cada tríade. O Tritipo, no entanto, reelabora essa teoria, considerando não apenas fixações do ego, mas Eneatipos por inteiro (incluindo asa, variante instintiva e até movimento). Katherine Fauvre descreve o funcionamento do Tritipo em seu livro “Os 27 Tritipos Revelados”: “Esses três Eneatipos compõem uma estrutura triádica, na qual um dos tipos é dominante ou primário, representando a estratégia de defesa preferida do ego. Quando essa estratégia dominante não é suficiente para lidar com um problema, o ego recorre às estratégias dos outros dois tipos dentro do Tritipo, em ordem crescente e repetitiva. Assim, o indivíduo sempre utiliza os três tipos em sua estrutura na tentativa de resolver questões e enfrentar desafios. Essa dinâmica de combinação dos tipos cria um foco de atenção único e uma visão de mundo compartilhada, moldando a maneira como o indivíduo se relaciona consigo mesmo e com os outros.

O Tritipo é representado em um perfil pelos números dos Eneatipos em ordem de preferência, refletindo a influência relativa de cada tipo na personalidade do indivíduo.” Vejamos, por exemplo, o 136. Este é um E1 que possui um E3 «alto» e um E6 «baixo». No Trifixo, nos referiríamos tanto ao 136 como ao 163 ao dizer 136, pois sua ordem de consideração gira no sentido horário. No Tritipo, no entanto, consideramos a ordem de modo prioritário. Um 136, portanto, é diferente de um 163. Contudo, preferi começar a utilizar [colchetes] para expressar um elemento de Tritipo ou mesmo um “Tritipo fixo”. Seguindo o mesmo exemplo, nos referimos ao 136 e ao 163 separadamente no Homoscience. No entanto, geralmente quando é necessário explicar uma correlação ou funcionamento do Tritipo, digo [136], de modo a indicar tanto o 136 como o 163 — o “Tritipo fixo”. Um exemplo pode ser encontrado no ensaio “O Prisma das Neuroses”, onde, para destacar as correlações dos subtipos, indico da seguinte forma: SX6: LSI // MC // [683] e [684]. Agora que entendemos a escrita do Tritipo no Homoscience, retornemos à análise de sua estrutura.

Um Tritipo é composto por: [Eneatipo], [Tipo Alto] e [Tipo Baixo]. O [Eneatipo] é o aspecto primário da personalidade de alguém, que, em caso de necessidade, recebe suporte dos dois outros tipos. O [tipo alto] é um tipo mais evidente no comportamento do indivíduo. Se observarmos alguns 59x superficialmente, sentiremos o ar de um E9. Isso ocorre porque o [tipo alto] é menos desenvolvido e menos valorizado, de modo que, diferente do egotipo primário, não se preocupa tanto em esconder seus traços egoicos fundamentais. No SP5 com [9] alto, por exemplo, os traços de avareza costumam ser menos expressos e, principalmente se for SLI, o indivíduo transmite mais uma preocupação preguiçosa em relação ao ambiente, enquanto os aspectos avarentos, mesquinhos e retirados se omitem e são de maior preocupação consciente — poderíamos dizer que o [tipo alto] é um tipo “demonstrativo”. Por fim, o [tipo baixo], que poderia ser chamado de “vital” ou “inferior”, pode ter duas manifestações. Na primeira delas, equilibrada, ele aparece como um foco subjacente e nutritivo em relação à parte primária da psique do indivíduo. Supondo então um 594, o [4] baixo poderia ser uma preocupação subjacente à avarenta, representando um foco vital do ego do indivíduo na diferenciação mediante qualidades internas e mediante a consideração dos outros. Um 593, por outro lado, teria um foco vital mais centrado na produtividade de suas atividades, no movimento do ambiente e no desenvolvimento de sistemas de organização. Na segunda expressão do [tipo baixo], um 594 pode aparentar muito mais a preguiça, de modo que a inveja se torna um ponto inferior e vulnerável em sua psique, enquanto um 593 sentiria a vulnerabilidade na capacidade de trabalho e valor social.

O Tritipo consiste num «empilhamento» dinâmico, que se dá assim como o empilhamento instintivo. Poderíamos dizer de um 163, por exemplo, que este pode ser tanto um [1/63] como um [16/3]. A barra diagonal representa o ponto de fração do Tritipo. Um [1/63] é um Tritipo saudável, equilibrado, enquanto um [16/3] é insalubre, desequilibrado. Podemos considerar melhor este exemplo aplicando um sistema de pesos, valorando o [tipo primário] como 50, o [tipo alto] como 30 e o [tipo baixo] como 20. Portanto, num Tritipo [P/AB], temos valor 50 de um lado e valor 50 do outro, destacando um equilíbrio do ego. No entanto, num [PA/B], a parte alta se une à primária, totalizando valor 80, deixando a parte baixa em menor peso (20) e, portanto, notavelmente mais vulnerável. Poderíamos considerar esse “valor” como uma característica de força, peso, relevância, ou mesmo resistência. Por meio dessa analogia, portanto, compreendemos a saúde de um ego através do Tritipo.

Além dessa dinamicidade de peso, também temos no Tritipo a aplicação das variantes instintivas. Mas como isso funciona? Ao contrário do que alguns pensam, o instinto é o mesmo para todo o Tritipo. Observemos a tipagem de Lemongrab I, por exemplo, um LSE 1w2 SX/SO 163 Col-Mel. Como 163 SXO, Lemongrab possui em sua personalidade os tipos SX1, SX6 e SX3, tendo cada um destes o instinto social auxiliar. Em verdade, não é como se ele “tivesse” estes tipos, mas são os únicos que ele poderia ter, instintivamente falando, pois os instintos são uma esfera da psique separada da esfera emocional (paixões), intelectual (fixações) ou motora (defesas). Eles são uma prioridade de sobrevivência natural do indivíduo, e os Eneatipos apenas se conformam a essa esfera, que é tão mais fundamental do que a emoção ou o intelecto — é “nossa parte animal”. No entanto, não podemos considerar o Tritipo de um subtipo com base nos subtipos em questão. Isto é, para considerar o Tritipo de um SX1, não devemos procurar características de um SX6, principalmente porque um SX6 encontra expressão num outro Tipo Sociônico. Devemos buscar os traços fundamentais e eminentes de um SX6 em relação aos focos primários de um SX1, e o mesmo no caso de um SX3.

Um SX1 é um tipo direcionado pela Ira, manifestando então uma veemência em relação ao mundo — para que este se mova conforme seus desejos e necessidades urgentes. Um SX6, por outro lado, é um tipo direcionado pela Projeção, agindo de modo contrafóbico diante do mundo, comprovando suas suspeitas mediante a força e reagindo às fontes de medo de modo intimidador. Mas não é assim que o vemos no [SX1]. E o [SX3] também não é visto como o Vaidoso emocional do personagem propriamente dito. A necessidade de ser aos olhos do outro, sobretudo por estar em posição baixa, se manifesta de modo diferente. No caso de Lemongrab, observamos um [16/3]. Toda a sua veemência e necessidade urgente ganha uma forma adicional de imposição dos próprios valores moralistas. E essa atitude, de peso 80, visa proteger uma parte subdesenvolvida do ego: a necessidade de amor mediante a aprovação da autoimagem [SX3]. O SX3 torna-se a maior vulnerabilidade do personagem, como podemos observar em sua jornada de frustração em relação ao amor e à aceitação. Sobretudo, o [SX3] se torna vulnerável devido a um SX1 insalubre, que por sua vez sobrevaloriza o [SX6] e, portanto, eclipsa e subdesenvolve o [E3].

Para auxiliar na compreensão, observemos um exemplo de [1/63]: Olivier M. Armstrong (Fullmetal Alchemist: Brotherhood) LSE 1w9 SX/SO 163 Col. Olivier tem uma postura forte e inegavelmente veemente. No entanto, sendo uma SX1 saudável, ela é capaz de alcançar a virtude da serenidade ao considerar toda a sua equipe uma família. A “agressividade” não é um egoísmo, mas uma mão firme que visa a proteção e a força de seu batalhão. A atitude auxiliar contrafóbica é reservada para a ação em combate, enquanto a veemência serve para mover o ambiente numa direção sustentável e segura. O [SX3], por fim, é expresso na identificação de Olivier com seu trabalho. Podemos observar que, quando um Tritipo é equilibrado, o [tipo baixo] parece estabelecer uma relação indireta e vital com o [tipo primário], enquanto, quando desequilibrado, parece estabelecer um contato com o [tipo alto], uma posição inferior. Na prática, isso é análogo à integração/desintegração da lei do sete. Em Olivier, o SX1 recebe uma influência positiva e firme do [SX3], enquanto em Lemongrab o [SX6] recebe uma influência negativa e desesperada do [SX3]. No primeiro, o [tipo baixo] é como uma voz interior, uma motivação subjacente e vital; no último, é como uma criança que chora desesperadamente, prantando pela proteção de seus pais.

O Tritipo de Lisa Simpson

(Versão antiga da análise do Tritipo Dinâmico)

Diferentemente do Trifixo, proposto por Ichazo, onde cada indivíduo possuiria três fixações do ego diferentes, o Tritipo apresenta uma estrutura de tipos completos em vez de apenas fixações ou paixões. A fim de exemplo, tomemos uma tipagem aleatória: LII 6w5 SO/SP 614 MC — Lisa Simpson. Em sua personalidade, o principal foco é do E6; quando as coisas não funcionam na Dúvida, no Medo e na Projeção, ela passa para o Perfeccionismo, a Raiva, a Formação Reativa. No entanto, algo que me intrigou no conceito do Tritipo e que não foi explicado abertamente por Katherine Fauvre é o último dos tipos — tomei a liberdade de nomear os núcleos do Tritipo como “eneatipo”, “tipo alto” e “tipo baixo”. O tipo baixo não parece uma zona de fácil acesso, e geralmente é bastante implícito e até confuso sem os devidos critérios de análise. No entanto, o que observo no tipo baixo é um fator subjacente da personalidade, algo mais vital e menos consciente, expresso diante do medo por parte do ego. Enquanto isso, o tipo alto é aquele que aparece como mais proeminente para aqueles que não nos conhecem.

Então, a partir dessa análise do tritipo, eu poderia dizer que, para aqueles que não conhecem a Lisa a fundo, suas motivações e comportamentos como uma SO6 podem ser confundidos com os de um SO1. Neste caso, especificamente, é ainda mais confundível, já que o SO6 e o E1 se parecem um tanto. Já quanto ao Eneatipo inferior, podemos observar que Lisa possui características implícitas de um E4, embora não as manifeste verbalmente com tanta frequência. Ela tem fortes padrões éticos e está em constante comparação entre o certo e o errado (o que também compete ao SO6). No fundo, por trás do medo da fatalidade e do medo do fracasso, do erro, vemos na lisa não um medo da queda da posição de poder ou um medo de não saber quem é sem o trabalho e a inteligência, mas uma carência e uma posição desgostosa em relação ao mundo.

Por último, também é vital destacar que as variantes instintivas se aplicam a toda a estrutura tritípica. Ainda no caso da Lisa, por exemplo, não cabe dizer que ela seria, por exemplo, uma SO6 de SP1 alto e SX4 baixo. Não. O empilhamento é o mesmo para todo o Tritipo, de modo que o entendemos como um todo: um SO 614 — apenas para explicitar, isso denota que os tipos são SO6, SO1 e SO4. E, além disso, num nível de especificidade já menos necessário (pelo menos na análise geral de personagens), os tipos da ordem também possuem cada um uma asa — além de movimentos. A Lisa, por exemplo, poderia ser entendida como uma 6w5-1w2-4w3. Mas, se analisar um tipo baixo já pode nos deixar perdidos a depender do critério utilizado, acredito ser ainda mais labiríntico especificar a asa dos três tipos de um personagem.

Meus critérios de análise para definir qualquer Eneatipo e Tritipo são os Mecanismos de Defesa e, a depender, sua relação psicodinâmica. Isso torna a análise mais sistemática e menos “amadora”, por assim dizer. Neste caminho, a personagem não seria analisada pelos traços do SO 614 — e aqui vale mencionar que não existem descrições de todos os Tritipos; Katherine Fauvre apresentou apenas as descrições em sentido horário, mas não são muito úteis —, mas pela estrutura de cada um dos tipos, levando em conta principalmente as Defesas. Portanto, a ordem 614 caracteriza as defesas Projeção-Formação Reativa-Introjeção, as paixões Medo-Raiva-Inveja e as fixações Dúvida-Perfeccionismo-Falsa Deficiência. (PS: Ainda não consolidei um ponto de vista sobre isso, mas, ao que parece, os tipos são influenciados pelo pilar anterior. Ou seja, o SO1 alto de Lisa passaria por uma projeção de sua paixão, e o SO4 passaria por uma projeção e, também, por uma formação reativa. Assim, a Falsa Deficiência seria vista como culpa do outro e, a partir disso, levaria ao movimento reativo, de modo que não condiz com a atitude de um E4, mas de um E4 inferior.)

Continuação

O Tritipo Dinâmico, ou Ponderado

Leituras

Agora que chegamos ao final deste "curso" de Eneagrama, devo indicar algumas últimas leituras. Primeiro, é necessário ler todo o conteúdo indicado em Eneatipos. Em seguida, recomendo a leitura de "O Prisma das Neuroses" e dos trechos de introdução de "27 Personagens em Busca do Ser".

Neste ponto, o leitor deve saber sobre Eneagrama tudo o que eu mesmo sei. Agora, portanto, pode-se iniciar a aventura no mundo da Sociônica e do Temperamento. Boa viagem!

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