O Prisma das Neuroses

Este ensaio tem por objetivo o desenvolvimento da compreensão estrutural, geral e distintiva a respeito dos 27 tipos principais do Eneagrama. Como sempre, utilizarei o Bestiário como referência para a elaboração das descrições, bem como fontes oficiais de Cláudio Naranjo e compreensões estruturais (até onde sei, pessoais) sobre os Eneatipos. A leitura deste ensaio não visa leitores iniciantes no Eneagrama, mas pelo menos intermediários, se não avançados.

1.) Boa → SP4, SP5, SP6, SP1, SX1, SX7, SX3, SX2, SP2, SO2, SP3, SX8, SP8, SX9, SO4, SP9, SO1, SO6, SX6, SO5, SX5, SO9, SX4, SO3, SP7

2.) Mediana → SO8, SO7

A Estrutura dos Eneatipos

Um Eneatipo é constituído por três partes fundamentais: Paixão, Fixação e Mecanismo de Defesa (ou apenas Defesa). Cada um destes pontos pode ser alinhado a um Eneatipo angular: E3 para Paixão, E6 para Fixação e E9 para Defesa. No entanto, a existência dos subtipos através das variantes instintivas implica o foco por parte destes em uma das três partes dessa estrutura fundamental. No entanto, não se deve entender os subtipos a partir do instinto, e sim através do direcionamento triádico indicado por este (que varia dependendo do tipo).

Tomemos o E6 como exemplo. Há três tipos “covardes”, cuja soma chamamos de “E6” (uma média entre os três subtipos). O SP6 é o Emocional, enquanto o SO6 é o Intelectual e o SX6 é o Ativo. Ser Emocional, Intelectual ou Ativo indica, respectivamente, o foco de um subtipo na Paixão, na Fixação ou na Defesa. Todos os aspectos agem em união, claro. No entanto, existe uma ordem: a Paixão e a Fixação são estruturas interdependentes, enquanto a Defesa é oposta a ambas e opera como a verdadeira raiz de ambos os vícios emocionais e intelectuais. A Defesa se aplica a ambos: existe uma projeção tanto do Medo como da Dúvida. Noutro exemplo, tomemos o E2: a Repressão não existe apenas sobre o sentimento de carência em comparação ao mundo (4-2), mas também em relação à própria ideia de Abundância e ao sentimento Orgulhoso. Em outras palavras, o E2 não reprime apenas o sentimento de carência, mas também a emoção e a convicção com as quais sobrepõe a anterior. Assim, o E2 não se apresenta como abundante ou grandioso, a menos que haja um foco neste por parte do subtipo. Assim, o SO2 é o mais abundante, enquanto o SX2 é o mais orgulhoso, e o SP2 é aquele mais infantil e carinhoso.

Em suma, os emocionais denotam desejo, enquanto os intelectuais apresentam convicções, e os ativos um autoesquecimento. Retornemos ao E6. O SP6 é um emocional, é o medroso, de modo que o desejo, o anseio, é pela proteção através de uma conexão íntima com parceiros, grupos ou comunidades. Enquanto isso, o foco do SO6 se dá na dúvida: este, então, busca se tornar convicto sobre as coisas, não tolera (i.e., não se sente seguro) incertezas. Enquanto isso, o SX6, um ativo, age contra ambas as partes (embora seja apoiado por uma delas), passando por um processo de “contrafobia” devido a uma espécie de “esquecimento” do Medo e da Dúvida mediante a ação concreta. Podemos explorar mais a respeito de cada direcionamento através do alinhamento às tríades do Eneagrama — mas não vou fazer isso aqui.

Paixão (Emoção)

A estrutura psíquica do Eneagrama Naranjiano pode ser compreendida como «triádica», referenciando o triângulo interno da própria figura. Cada parte da psique pode ser alinhada a um dos «tipos angulares», de modo que a paixão é entendida como o “lado direito” da psique, uma parte de anseio, alinhada ao E3.

Em relação à conexão psicodinâmica do triângulo interno, Naranjo comenta: “Se lermos essa sequência psicodinâmica começando pela parte superior [9-3-6-9], podemos dizer que uma carência do sentimento do ser[^1] (implícita na inércia psicológica ou robotização da apatia) priva o indivíduo de uma base a partir da qual agir [9], o que o leva ao medo [6]. No entanto, como devemos agir no mundo por mais que o temamos, sentimo-nos impulsionados a resolver essa contradição atuando com uma personalidade falsa em vez de ter a coragem de ser quem realmente somos. Criamos então uma máscara que colocamos entre nós e o mundo e nos identificamos com ela [3]. No entanto, à medida que, agindo assim, esquecemos quem verdadeiramente somos, perpetuamos o obscurecimento ôntico [9] que, por sua vez, mantém o medo, e assim sucessivamente, num círculo vicioso.”

[^1]: N/A: Doravante, “ser” indica, no contexto psíquico do Eneagrama, aquilo que Naranjo entendia como a “chave” em sua “Teoria da Neurose Nasrudim”: “A ideia central contida neste livro, portanto, é que estamos em busca da ‘chave’ no lugar errado. Qual seria a chave para nossa libertação e para [nossa plenitude final]? Ao longo destas páginas, irei chamá-la de [ser], embora se possa argumentar, com razão, que até mesmo dar esse nome é demasiado limitado e limitante.” (Caráter e Neurose, p. 49)

A paixão corresponde ao centro emocional inferior, a uma motivação deficiente que domina a psique e que anseia pelo ser no lugar errado. Ela foi considerada por Naranjo como “a primeira manifestação do nosso processo de degradação na mais terna infância”. Uma paixão é diretamente relacionada a uma fixação, e muitas vezes representa uma expressão emocional do preconceito cognitivo subjacente e relativo à última. A paixão exacerba os comportamentos e pensamentos associados à sua fixação, criando assim um ciclo de reforço mútuo.

Por exemplo, o E8 é o Eneatipo Luxurioso-Rebelde-Negacionista (ordem PFM). A Luxúria se manifesta como um desejo excessivo e incontrolável por intensidade. Por sua vez, ela é associada à Rebelião — um pensamento fixado e preconceituoso da parte do E8 sobre o mundo —, de modo que tudo é visto através de um prisma de confronto, de desafio às normas, de autoafirmação e posse. A paixão é equilibrada com a fixação graças ao mecanismo de defesa. No caso do E8, a fixação da Rebeldia surge como uma Negação da vulnerabilidade (E2), enquanto a paixão da Luxúria surge como uma busca pelo ser (no lugar errado) e é sustentada por uma negação da própria maldade — i.e., “Eu não sou mau ou agressivo, mas apenas respondo o mundo com a mesma veemência.”

O ponto superior do centro emocional é chamado de «Virtude». Enquanto a paixão representa uma atitude viciosa, a virtude diz respeito a um estado emocional mais elevado e equilibrado, no qual o indivíduo conta com uma melhor capacidade de sentir emoções positivas e compassivas de modo saudável e integrado.

Fixação (Intelecto)

Se a paixão pode ser compreendida como a parte direita da psique triádica do Eneagrama, a fixação corresponde ao “lado esquerdo”, uma parte de aversão, alinhada ao E6.

A fixação corresponde ao centro intelectual inferior, caracterizando um componente fundamental na definição da estrutura dos Eneatipos. Ela pode ser entendida como uma distorção cognitiva específica persistente que influencia o modo como um indivíduo percebe e reage ao mundo. Ela opera em conjunto com a paixão e o mecanismo de defesa para construir a tríade central que caracteriza o comportamento e a psicologia de cada tipo.

Entendemos por fixação, além de uma distorção cognitiva, um preconceito mental que se forma durante a infância em resposta a circunstâncias de sofrimento ou privação. A fixação representa um modo rígido de pensamento que limita a percepção e a interpretação da realidade, funcionando como uma racionalização da paixão correspondente. Segundo Naranjo, “A palavra ‘fixação’ sugere a ideia de que é através da perturbação cognitiva que ficamos presos, sendo cada fixação, por assim dizer, uma racionalização da paixão correspondente.” Essa deformação cognitiva «fixa» o comportamento, impedindo respostas criativas e adaptativas por parte do indivíduo às situações presentes. Trata-se de uma estratégia adaptativa precoce, mas que persiste mesmo quando já não é mais funcional ou necessária.

Podemos dizer que a fixação é uma espécie de piloto automático, onde o indivíduo recorre a uma resposta específica com base em padrões antigos e sem consultar a totalidade de sua mente ou considerar a situação criativamente no presente. “A persistência dessa estratégia adaptativa pode ser estendida se levarmos em conta o contexto doloroso no qual foi produzida e o tipo especial de aprendizado em que se baseia: não um tipo de aprendizado que tem lugar gratuitamente no organismo em crescimento, mas um tipo de aprendizado por coerção caracterizado por uma fixação ou rigidificação especial do comportamento, como resposta de emergência à situação inicial.” Naranjo observou a fixação como o tópico central da psicopatologia: “É essa fixação de respostas obsoletas e a perda da capacidade de responder criativamente no presente o que mais caracteriza o funcionamento psicopatológico.” (p. 27)

Naranjo pontuou a fixação de tal modo pois observou que a degradação emocional caracterizada pela paixão é essencialmente fundamentada numa “deformação cognitiva oculta” (fixação), referenciando-a ainda como uma “cognição ordinária”, “defeitos cognitivos específicos, ou facetas do sistema ilusório do ego”. (p. 41)

O ponto superior do centro intelectual é chamado de «Santa Ideia». Enquanto a fixação corresponde a uma deficiência/mal desenvolvimento da capacidade cognitiva, a ideia santa caracteriza uma percepção clara e intuitiva da realidade, livre de distorções, representando a capacidade do indivíduo de ver e entender a verdade de maneira direta e contemplativa. Na ideia, um indivíduo é capaz consultar a sua consciência para formar um pensamento, passando a responder ao mundo de modo ativo em vez de automático e abrindo espaço para o instinto puro — enquanto a fixação compete com ele. (ref. Os Enganos do Caráter e Seus Antídotos, Durán & Catalán)

Mecanismo de Defesa (Atividade)

O mecanismo de defesa não corresponde a um lado do Eneagrama, mas poderíamos notá-lo como um “norte”, ou mesmo como o “vértice superior” — embora eu prefira não provocar confusão entre “canto superior” e “centro superior”.

O mecanismo de defesa (ou apenas defesa, para abreviar) é a estratégia psicológica através da qual o indivíduo lida com a dor emocional e a ansiedade resultantes da paixão e da fixação. Ele protege o ego da percepção dolorosa da realidade por meio de uma espécie de ignorância — podemos dizer assim se entendermos a paixão como o veneno do anseio e a fixação como o da aversão, de modo que a defesa se alinha ao E9, sendo então entendida como um embotamento do ego.

A defesa é a última quina necessária para a construção do ouroboros psicopatológico do Eneagrama. Ocorre que a fixação é alimentada pela fixação, que por sua vez é protegida pelo mecanismo de defesa. (Podemos observar aqui como, embora a paixão e a fixação sejam interdependentes, existe um fluxo de movimento crescente da consciência: 3-6-9-3, ou anseio-aversão-ignorância-anseio.) Enquanto a paixão intensifica a estratégia adaptativa precoce da fixação, o mecanismo de defesa impede a percepção e o processamento da dor emocional associada a essa limitação.

Naranjo nunca mencionou nada da seguinte natureza, no entanto, compreendendo as partes da psique com base numa estrutura triádica, ouso destacar os mecanismos de defesa como o “centro motor inferior”. Chamo assim porque, sendo que a defesa se alinha ao centro intestinal e este caracteriza o autoesquecimento por meio da ação narcotizante e potencialmente preguiçosa, parece justo inferir a defesa como um movimento instintual deficiente. Assim sendo, poderíamos entender o “centro motor superior” como um verdadeiro enfrentamento da realidade, uma libertação da ignorância através da «ação». O nome que eu daria seria justamente este, referenciando a virtude do E9. Em verdade, tudo o que aprendi sobre a base deste centro motor diz respeito a estruturas fundamentais do Eneatipo 9.

SP1 — Formação Reativa (Atividade)

» LSE // C, CM e CF // [135] e [136]

O SP1 é o E1 de variante ativa, o que significa que seu foco se dá, sobretudo, em seu Mecanismo de Defesa — Formação Reativa. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SP1 pode ter, em sua atitude autorreformadora, tanto o auxílio do foco na Fixação (Perfeccionismo) como na própria paixão (Raiva).

O foco na Formação Reativa designa a rigidez característica deste tipo. O SP1 é aquele mais retido entre os E1. Aqui, a Formação Reativa opera com maior força do que em qualquer um: a Ira é transformada numa preocupação constante com a ordem e com a perfeição prática. A característica de sobrevivência no E1 conservacional está na necessidade de controle e no subsequente medo da perda deste. A Raiva, então, é utilizada de modo ativo — se esta consiste num sentimento de oposição a um mundo que “errou” ou “pecou”, o SP1 é quem irá corrigi-lo, com benevolência, serviço, boa vontade, controle e diligência. O Superego do SP1 (– Fe/Ni) é evidente no investimento do tipo na boa ação, naquilo que considera eticamente correto no que diz respeito à sua influência ativa no mundo externo. O SP1 é bastante erudito: o ambiente, as pessoas e o próprio ser são observados por seu juiz — e tudo o que não se adequar ao “correto” deve ser corrigido mediante o esforço e a preocupação. Existe uma dificuldade em sair da rotina, dos comportamentos já aderidos, do “caminho correto” que o controla por meio de regras e padrões éticos extrínsecos (eixo anal).

Diante de qualquer necessidade ou objetivo, o SP1 reage com uma necessidade de controle sobre si mesmo e sobre a situação. Ele age com “sangue frio”, fazendo aquilo que precisa ser feito e tomando a frente. Se necessário, vai contra a vontade dos outros para fazer aquilo que considera moralmente correto — ou, ainda, a que está apegado. Essa necessidade de controle pode ser sustentada por uma rigidez moral/intelectual de caráter inadaptável, que lhe confere o sentimento de um direito de autoridade sobre os outros e que se apresente como uma benevolência moralista (SO); ou, por outro lado, pode ser sustentada por um sentimento de urgência, por uma veemência, um zelo justificativo (SX). Como um LSE (exclusivamente), o SP1 é bastante organizado e pensa no mundo em termos objetivos, de “o que move o quê”, com uma necessidade de regulação e estabilidade. A vida do SP1 pode ser mais ou menos organizada. Alguns têm uma rotina rígida e hiperdetalhista, que prescreve até mesmo o horário de acordar ou de escovar os dentes. Outros, que são capazes de atingir um estado de serenidade, entram em contato com as pessoas, coisas e atividades que gostam, não se negando o direito de desfrutá-las — o direito de descansar, de sentir o prazer sem que o mundo se acabe. Pode ser um bom chefe, embora potencialmente duro. Muitas vezes, as emoções passarão despercebidas, ou serão atropeladas, mas isso é porque este é um foco secundário e menos desenvolvido por parte do SP1.

SO1 — Perfeccionismo (Intelecto)

» LSE // C, CM, CF e CS // [135] e [136]

O SO1 é o E1 de variante Intelectual, o que significa que o foco principal de seu ego se dá, sobretudo, na Fixação — o Perfeccionismo. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SO1 pode ter, em sua atitude hipermoralista, tanto o auxílio do foco na própria Paixão (Ira) como do M. de Defesa (Formação Reativa).

O foco no Perfeccionismo destaca o comportamento moralmente rígido, convicto e anancástico do SO1. Aqui, o Perfeccionismo é uma forma de corrigir o sentimento da Ira: o mundo pecou, portanto, para o SO1, ele deve ser corrigido através de uma perfeição intelectual. Trata-se de um caráter forte, de conduta moral firme e bem alinhada aos próprios princípios e convicções. Ele acredita que seu modo de ver e fazer as coisas é a correta (Superego), e raramente se adapta ou compromete suas normas pessoais. O SO1 investe tudo numa espécie de «boa ação», por isso, entendendo-se como aquele mais focado em fazer o certo, passa a entender-se como aquele mais capacitado e adequado para tal. Devido a essa crença de que a sua perspectiva crítica é a mais correta e justa, o SO1 também possui um certo sentido de superioridade intelectual, de modo que espera que os outros se ajustem às suas expectativas e padrões elevados — e por vezes, sente que é ele mesmo quem deve se adaptar, podendo sentir-se numa «dívida moral», buscando ser constantemente bom por meio de ações.

O SO1 faz parte dos tipos que «movem o mundo» (LSE). Esse movimento ocorre com base numa busca incessante por melhorias e correções que, como toda fixação, podem ser aplicadas tanto ao próprio indivíduo quanto às pessoas e ao mundo que o rodeiam. O foco do SO1 é alcançar algo como um “estado de perfeição”, através do qual, ele acredita, será capaz de eliminar erros e imperfeições. Trata-se de alguém aristocrático, cuja convicção intelectual se manifesta num sentimento de ser e estar no caminho correto. Sua necessidade neurótica é a superioridade. Para Naranjo, o pensamento do SO1 parecia ser “Se você está errado, então tenho mais direito do que você de dominar a situação”. Se o SP1 é um perfeccionista e o SX1 é alguém veemente e zeloso, o SO1 é um tipo que visa conquistar seus direitos por meio da boa ação.

O SO1 conquista o amor, o carinho e o cuidado de seus pais ao estabelecer uma relação de dívida com eles. Na infância, sua atitude diante dos pais poderia ser traduzida em algo como “veja como sou bom, você me [deve] respeito e reconhecimento”. No futuro, por sua vez, o SO1 busca corrigir o mundo tanto quanto buscou corrigir a si mesmo durante toda a sua vida — ser perfeito é o que se faz para merecer estar vivo e para obter aquilo que deseja. O SO1 visa alcançar um estado de superioridade em tudo aquilo que vive: em si, no outro, em sua comunidade, em sua imagem, em seu moralismo, e mesmo no sentido mais puro de justiça ou equilíbrio. É um personagem crítico que busca melhorar e corrigir ações e pensamentos, estando sempre insatisfeito consigo, e inadaptado em relação ao mundo. Para o SO1, o ser somente é sentido mediante a superioridade, a perfeição, o «direito». Eu diria que o SO1 se qualificaria como alguém de personalidade «erudita», pois, aqui, a Formação Reativa transforma sentimentos e impulsos inaceitáveis em comportamentos precisamente opostos. Isso mantém a imagem de perfeição e controle que permite ao SO1 o direito sobre a vida que deseja. No entanto, essa atitude de «empurrar o rio» faz com que o SO1 não seja somente inadaptado e rígido diante do mundo, mas diante da própria espontaneidade. Parece haver um pensamento como “tudo o que eu sou por natureza é ruim, portanto, vou conquistar e mover o mundo ao ser justamente o oposto do que sou”. Este parece ser o E1 ao qual Naranjo mais se refere em “Caráter e Neurose”, um E1 que suprime os próprios impulsos e desejos, tidos por ele como inaceitáveis e substituídos por ações que reforçam uma autoimagem de moralidade e perfeição (relação psicodinâmica 7–1; uma formação reativa, uma postura austera e autocontrolada em relação à indulgência e à imoralidade).

Diante de qualquer adversidade, o SO1 se vê na necessidade de assumir o controle, tomar o posto de autoridade mediante a prova da própria dignidade e mover o mundo na melhor direção possível. Na verdade, o SO1 se sente mais vivo quando está resolvendo problemas e governando os outros rumo a um objetivo em comum. Há uma frieza na ação do SO1, visto que se trata de um tipo gástrico, i.e., alguém que esquece de si próprio (e, portanto, sente-se) mediante a ação. No caso do SO1, a ação está no controle social, no domínio, na correção, na orientação. Ele experiencia um sentido de “missão social”, como se resolver erros e corrigir o mundo fosse sua obrigação. Em verdade, é dessa forma que estes tipos geralmente expressam seu amor: mediante a crítica. Eles agem como se dissessem “Você deve mudar!”, mas o verdadeiro sentimento se aproxima mais de algo como “Apenas mediante a perfeição temos o direito de existir, e eu não quero que mal algum ocorra comigo, e muito menos com você”. Essa parte do SO1 caracteriza a tentativa de se adaptar e encaixar no mundo, mesmo sendo (ironicamente) aquele mais inadaptável. Se puxarmos para outro contexto, podemos dizer que o SO1 cuida mais da grama do vizinho do que da própria, está mais preocupado em corrigir a vida dos outros do que viver a própria. É um vigilante! (O mundo precisa ser mantido em ordem, e ele é o motor que o levará adiante.) Essa atitude perfeccionista e reformadora pode ser complementada por uma face um tanto mais benevolente, preocupada e controlada (SO), ou então por uma mais veemente, que manifeste a Ira de modo mais intenso e direto, mediante gritos e até agressões (SX). O primeiro parece ser mais focado em buscar aquilo que tem por «certo», enquanto o segundo sente o certo como a única coisa que se pode ser — existe uma relação sexual com as boas ações, de modo que o indivíduo verdadeiramente sente o ser ao impor-se como correto.

SX1 — Ira (Emoção)

» LSE // C, CM e CS // [136] e [137]

O SX1 é o E1 de variante emocional, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, em sua Paixão — Ira. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SX1 pode ter, em sua atitude iracunda, tanto o auxílio do foco na Fixação (Perfeccionismo) como no M. de Defesa (Formação Reativa).

O foco na Ira designa o sentimento de urgência e a veemência características deste tipo. O SX1 é o que mais «grita» entre os E1. Aqui, a Ira opera com maior força do que em qualquer outro: ela é expressa com todo o seu poder, com toda a sua natureza emocional. Esta é um sentimento de indignação diante de um mundo que errou com o indivíduo, e cujo único meio possível de recuperar o estado de plenitude original — ele pensa — é reformando o próprio mundo, movendo-se contra ele, “corrigindo-o”. No SX1, tudo é direcionado a uma espécie de dominância zelosa. Mas não se deve confundir a sua dominância com aquela apresentada pelos E8s. Aqui, a «dominância» é utilizada para mover o mundo, e não necessariamente para a obtenção do próprio prazer de modo egoísta. Por isso os apelidos concedidos a este tipo são «Veemência» e «Zelo».

Em contraste com o SP1, o uso do Superego (– Fe/Ni) varia muito a depender do Tritipo em questão. Quando 163, o sentimento de urgência e a veemência parecem ser expressos por meio deste com uma espécie de “projeção”. Essa projeção ocorre em direção ao dever, de modo que o foco secundário do tipo, ao que me parece, são as necessidades urgentes do ambiente, ou mesmo do próprio ser, refletindo uma “boa ação” mais evidente e desesperada — culminando, até, num certo sentido de vingança/punição. O que ocorre é um foco no aqui e agora. Quando 136/7, por outro lado, o SX1 tem um foco muito maior naquilo que realmente sente como emoções do que necessidades. Existe uma certa necessidade de “aprovação social”, seja por ser a melhor banda do país, a melhor cozinheira numa cozinha repleta de homens, ou meramente fazer acontecer aquilo em que acredita e formar uma banda de sapos. Neste caso, as emoções do SX1 podem atropelar os sentimentos dos outros, enquanto, no primeiro, as necessidades são aquelas que atropelam (cit. “Isso é inaceitável!” — Lemongrab I).

Diante de qualquer necessidade ou objetivo, o SX1 é aquele que toma a posição de autoridade. Se alguém vai contra aquilo que o SX1 ordena, é simples: ele grita, ele confronta. Como dito, existe um sentimento de urgência – uma urgência sobre os desejos/necessidades do próprio ser, de modo que este se opõe (impõe) ao mundo para realizá-los. Esse sentimento de urgência pode ser auxiliado por uma rigidez moral/intelectual de caráter inadaptável, que lhe confere um sentimento complementar de um direito de autoridade sobre os outros, e que se apresenta como uma benevolência moralista (SO); ou, por outro lado, pode ser apoiado por um autoperfeccionismo, por um estado de rigidez espiritual, de modo que as necessidades são atendidas de modo muito mais diligente do que missionário (SP).

Da minha perspectiva, o SX1 sempre pareceu uma espécie de “contrapersonalidade”. Se a personalidade é justamente um meio de se adaptar à sociedade, como pode existir uma personalidade precisamente oposta a isso — i.e., inadaptável, rígida, normativa e autoritária? No entanto, após conhecer Terence Fletcher (Whiplash, 2014), notei o papel social de um SX1 como um LSE. Embora possa ser bastante abusivo, este tipo pode desempenhar um forte tom de direcionamento àqueles a seu redor. Se no SP1 as próprias emoções são negligenciadas (Superego), aqui são, também, as emoções dos outros. O SX1 passa por cima delas, pois o mundo não precisa de «bebês chorões», mas sim de grandes engrenagens. Um não deve chorar – deve se mover e alcançar o máximo de seu próprio ser, deve alcançar a perfeição. É justamente isso o que molda a personalidade do SX1. Se ninguém o ouve à mesa quando pede o sal, basta gritar! (ref. Benson Dunwoody) Se ninguém é bom o suficiente por si só, basta levar todos ao máximo, além do próprio limite. E se te acham fraco, apenas prove que não é. (Nesse sentido, o SX1 pode, num estado de integração, lembrar o SX4: se o outro está muito alto, decapitá-lo-ei; então, estarei acima — ref. Maki Zen’in.)

SP2 — Repressão (Atividade)

» ESE // S, SC, SM e SF // [269], [278] e [279]

O SP2 é o E2 de variante ativa, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, em seu Mecanismo de Defesa — o Orgulho. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SP2 pode ter, em sua atitude histriônica, tanto o auxílio do foco na Fixação (Falsa Abundância) como da própria Paixão (Orgulho).

O foco na Repressão indica as características fundamentais de infantilidade e vulnerabilidade deste subtipo. No SP2, a Repressão age contra a carência de modo consideravelmente oposto ao do SX2: se este busca parecer adulto em sua sedução, o SP2 parece mais com uma criança fofa, ele busca ser indispensável por meio da disponibilidade à ajuda. O SP2 deseja ser amado incondicionalmente, pela própria natureza, e age como se merecesse o mundo, com um ar de encanto infantil. Enquanto o SX2 é selvagem e o SO2 é divino, o SP2 tem uma matiz de ternura e um comportamento pueril. Ele cria uma autoimagem de simplicidade e delicadeza, uma imagem que busca por cuidado e proteção. Costuma ser alguém gentil, emocionalmente expressivo e aberto, embora, no pior dos casos, possa se tornar egocêntrico, esperando mais amor (entre outras coisas) do que realmente merece ou faz por merecer, tratando a idealização deste como se fosse algo real e que lhe fosse de direito irrevogável.

Diante de qualquer adversidade, o SP2 entra num estado de Repressão. O orgulho é sentido como um direito a tudo aquilo que o mundo tem de melhor, um direito inato ao prazer e à realização, mesmo sem a devida dedicação ou competência. Entre os E2, o SP2 parece menos impulsivo e manipulador, tornando-se um tanto mais irresponsável, principalmente no que diz respeito às emoções e ao amor. Os sentimentos de dor são sentidos de uma forma um tanto falsa quando este sente que um direito seu foi violado. Ele é doce, mas vai te agredir se for ofendido, vai perder a consideração por sua existência. A atividade do SP2 é uma luta constante pare evitar um sentimento reprimido de carência. O amor, a atenção e a abundância, portanto, são conquistados por meio dessa atitude infantil, com um rosto alegre e dedicação a cuidar dos outros. Este sim poderia ser chamado de “o Ajudante”, pois ele sente o amor não ao recebê-lo, mas ao fazer aquilo que acredita que o concederá. Essa busca fundamental do SP2 por amor incondicional e proteção (além da ternura) pode, por um lado, ser auxiliada por um sentido de conquista, por um aspecto intelectual de abundância, autoconfiança e influência (SO). Já por outro, pode receber as águas de uma afluente de maior liberdade, sedução e aventura (SX).

SO2 — Falsa Abundância (Intelecto)

» EIE // SC, SF, SM, C, CS e CF // [251], [261], [268], [271] e [278]

O SO2 é o E2 de variante Intelectual, o que significa que o foco principal de seu ego se dá, sobretudo, na Fixação — a Falsa Abundância. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SO2 pode ter, em sua atitude ambiciosa e “manipuladora”, tanto o auxílio do foco na própria Paixão (Orgulho) como do M. de Defesa (Repressão).

O foco na Falsa Abundância destaca seu comportamento ambicioso e influente. No SO2, a Abundância é a mais pronunciada de todas: existe uma necessidade de ser relevante e influente em ambientes sociais. O SO2 busca por reconhecimento e importância dentro de grupos e comunidades, utilizando sua capacidade intelectual e habilidades de liderança para se destacar e manipular o ambiente a seu favor. Se comparado aos outros subtipos, o SO2 é aquele que mais se destaca. Pois não se trata de alguém de fortes emoções e que busca por conforto ou estímulos (ESE), mas de um personagem que observa o ambiente social e que deseja ser visto como grandioso por ele, alguém capaz de apontar os eventos do mundo exterior com um aspecto de inevitabilidade (EIE). Entre os E2, o SO2 é aquele onde a adjacência ao E1 é mais notável: ele pode fazer acordos para obter o que quer, pois sabe o que você deseja e como te influenciar (manipulação); ou, ainda, pode ocultar seus desejos verdadeiros sob uma atividade intelectual no mundo, tomando a posição de liderança e adotando uma imagem que expresse de modo apropriado a abundância necessária para mover o ambiente em questão. Aqui, a repressão surge sobre necessidades emocionais profundas, de modo que o SO2 passa a se focar em desempenhos e realizações sociais para evitar lidar com suas próprias vulnerabilidades e carências afetivas.

Diante de qualquer adversidade, o SO2 entra num estado de Pseudoabundância. O orgulho é expresso através de uma certa arrogância, um egoísmo, um orgulho mais propriamente dito. As adversidades são enfrentadas de modo orgulhosamente intelectual; o SO2 faz de tudo que pode para alcançar aquilo que tem por objetivo ou como objeto de desejo. Ele pode barganhar, entendendo aquilo que pode dar ou mesmo tomar; pode manipular, adotar uma falsa modéstia, se valer da influência adquirida para exercer um poder objetivo, e até mesmo adotar julgamentos emocionais como dogmas. No entanto, caso não haja essa possibilidade, ou mesmo se o personagem em questão não for “suficientemente” orgulhoso para tal, existe um comportamento missionário, confiante e decidido. O modo de defesa, aqui, é um orgulho sobre a abundância, enquanto no SP2, por exemplo, é um orgulho sobre a repressão — i.e., sobre as boas qualidades individuais, o aspecto de amabilidade; e no SX2, um orgulho libertino que impõe a própria vontade aos demais.

A busca fundamental do SO2 por importância e influência social pode, por um lado, ser auxiliada por uma maior sedução direcionada, por um desejo emocional, por uma busca por indispensabilidade e por uma posição de força (SX). Por outro, este pode ter uma face mais moralista e propriamente intelectual, de modo a conduzir o sujeito a um apreço por aquilo “que é certo a se fazer” e a uma maior dedicação aos próprios objetivos (SP).

SX2 — Orgulho (Emoção)

» ESE // S, SC, SF, SM // [268], [278] e [279]

O SX2 é o E2 de variante emocional, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, em sua paixão — o Orgulho. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SX2 pode ter, em sua atitude histriônica, tanto o auxílio do foco na Fixação (Falsa Abundância) como do M. de Defesa (Repressão).

O foco no Orgulho designa as características de sedução e liberdade presentes neste subtipo. No SX2, o Orgulho toma toda a sua força: todas as energias são investidas num caminho emocional e na satisfação da necessidade intensa de ser necessário e amado pelos outros. O SX2 mascara uma profunda carência afetiva construindo uma autoimagem grandiosa e iluminada, escondendo suas próprias necessidades e apresentando-se como alguém que só vive para dar e cuidar dos outros. O E2 dá para receber, e sabe muito bem aquilo que o outro deseja. O SX2 é um personagem sedutor e o mais emocionado deste Eneatipo, podendo, inclusive, ser aquele mais agressivo entre eles. Ele vive de modo intenso e é impulsionado pelo desejo: ele deseja os outros, deseja o mundo, e quer ser igualmente (ou ainda mais) desejado.

Diante de qualquer adversidade, o SX2 entra num estado de Orgulho. Esse orgulho pode se manifestar numa repressão exercida sobre os próprios sentimentos, necessidades e debilidades mais interiores, ou mesmo numa imposição dos próprios desejos sobre os outros — o que delega ao SX2 uma posição mais agressiva em relação aos outros subtipos. Há um sentido de dominância no aspecto emocional deste tipo, ou então uma matiz de ignorância — afinal, o E2 é, essencialmente, um sujeito narcotizado em relação às próprias carências e obrigações. A busca fundamental do SX2 por liberdade e abundância emocional pode, por um lado, ser sustentada pela conquista, por um aspecto intelectual de abundância, confiança e influência (SO). Por outro, pode se tornar um tanto mais ativo, de modo que a carência passa por uma repressão bastante mais pronunciada, conduzindo a uma apresentação infantil e dependente, a uma busca por proteção e um comportamento um tanto mais infantil (SP).

SP3 — Identificação (Atividade)

» LSE // S, C, SC, CS e CF // [351], [361] e [371]

O SP3 é o E3 de variante ativa, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, em seu mecanismo de defesa — a Identificação. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SP3 pode ter, em sua atitude eficiente, tanto o auxílio do foco na Fixação (Engano) como na própria Paixão (Vaidade).

O foco na Identificação designa as características ativas de solidez e pragmatismo presentes neste subtipo. No SP3, a Identificação toma a cena: o foco passa a ser uma imagem ativa de eficiência, autossuficiência e solidez. O SP3 sempre me remete a uma questão de trabalho, a uma promoção mais sutil se comparado aos outros subtipos. Como um cardíaco-ativo, ele não busca a validação de uma imagem criada para agradar ou ser aceito, mas de uma imagem de alguém dotado de qualidades e força, alguém eficiente e capaz de garantir a segurança e a estabilidade, alguém — acima de tudo — competente. Se algo deve ser feito, o SP3 é quem garante a execução. Aqui, a atividade que fomenta a vaidade é exercida socialmente, e o Engano, ao que me parece, é justamente esse autoconceito (bem como a constante busca pela aprovação deste) de força e relevância. O SP3 é algo como o motor de um ambiente. Ele sabe o que deve ser feito para garantir que algo seja feito, e vai mover o mundo nessa direção tanto quanto puder. E como nos outros E3, o Engano é uma confusão sobre o próprio ser quando este se aparta do serviço social: “O que eu sou, se não o meu trabalho?” Se a paixão é a busca pelo ser no lugar errado, então o engano ocorre ao acreditar conquistar um valor mediante uma imagem inadmitidamente vaidosa — alguém que move o mundo merece seu respeito, merece o próprio mundo, não é?

Diante de qualquer adversidade, o SP3 se aprofunda na Identificação. Não importa o que vier: “Eu sou forte, sou competente, sou suficiente” — ele parece pensar. E de trabalho em trabalho, o SP3 esquece do seu próprio ser enquanto tenta alcançá-lo. Pode haver um foco no sucesso, em provar algo para os outros, em se provar a si mesmo, em exercer a justiça, em realizar com eficácia aquilo que lhe é delegado, etc. Mas, nessa compreensão do ser apenas através do seu trabalho e na eficiência, logo o SP3 se torna o próprio trabalho, a própria eficiência. E quando chegam as férias: “O que eu sou? Do que eu gosto?” Acaba por ser alguém incapaz de se desvencilhar do trabalho, ou mesmo do cuidado de uma família, e quem sabe, até, de um sonho (um objeto) de infância. A busca fundamental do SP3 por um valor (implicitamente) vaidoso do ser através da capacidade de trabalho, realização e estabilidade pode, por um lado, ser complementada pela busca por prestígio social, por brilho, de modo a adotar uma postura bastante mais camaleônica e vaidosa, mais forte, mais reativa e abertamente promotiva, mais preocupada com o reconhecimento social (SO). Já por outro, pode haver um tom adicional de desejo, de modo que o indivíduo parece mais intenso sobre suas emoções e até mesmo um tanto mais íntimo, entendendo-se não através de um trabalho realizado apenas socialmente, mas também “sexualmente”; não como pessoa, mas como indivíduo (SX).

[#] SO3 — Engano (Intelecto)

[...]

SX3 — Vaidade (Emoção)

» ESE // S, SC e SF // [361], [369] e [379]

O SX3 é o E3 de variante emocional, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, em sua paixão — a Vaidade. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SX3 pode ter, em sua atitude sexual, tanto o auxílio do foco na Fixação (Engano) como no M. de Defesa (Identificação).

O foco na Vaidade designa as características de complacência e submissão social presentes neste subtipo — além, é claro, da tão citada «construção da autoimagem». Neste tipo, a Vaidade toma a sua força integral: o foco passa a ser o desenvolvimento da atratividade, desempenhando, portanto, papéis de gênero através dos quais brilha no mundo. O Engano ocorre ao acreditar ser a imagem supostamente atrativa que apresenta à sociedade, e a Identificação com esta sustenta a busca por validação emocional e sexual. Não há entre os E3 um mais socialmente submisso ou tão dependente. O ser real é suprimido para se adequar a um «molde cultural». “O que um bom filho, um bom homem, uma boa esposa (e assim sucessivamente) deve fazer?”, o SX3 parece se questionar. A partir disso, a face camaleônica entra em cena e a posição de promoção ocorre não sobre os movimentos ou atividades, mas sobre o próprio ser, e até sobre o próprio corpo. Devido ao seu Id (– Fi/Se), os SX3s tendem a desrespeitar os próprios sentimentos e sensações individuais em prol da manutenção de uma imagem social ativa, lidando, também, com uma dificuldade com conflitos diretos.

Diante de qualquer adversidade, o E3 entra num estado de Engano. Isso pode ocorrer das mais diversas formas: ele pode pensar que uma boa ação X levará a um efeito prático Y desejado; que os outros querem o melhor para ele, mesmo quando evidentemente não lhe fazem bem; pode fingir que não sofre ao pedir ajuda; imaginar que todos têm um potencial de bondade; pensar que será feliz ao ter X, Y ou Z; que ser prestigiado o fará ter uma boa vida; ou mesmo, mais fundamental ainda, que o que o fará ser amado será o esforço emocional que exerce em sua vida. Neste ponto, devo comentar que, em certa medida, o SX3 parece uma espécie de “versão extrovertida” do SP4. Mas o SP4 sabe bem aquilo que deseja e quer alcançar, enquanto o SX3 acredita desejar ter ou ser aquilo que, na verdade, os outros admiram e almejam mais do que ele mesmo.

A busca fundamental do SX3 por validação emocional e amor pode, por um lado, ser sustentada pela busca complementar por prestígio social, por brilho, de modo a adotar uma postura muito mais camaleônica e vaidosa, mais forte, reativa e valorizadora do poder — incluindo aquele conferido pelo status social (SO). Já por outro, pode ser sustentada por um maior esforço ativo no mundo, de modo a buscar pela segurança e pela estabilidade, disfarçando um tanto mais a Vaidade e investindo sua Identificação na ação concreta, buscando manter tudo sob controle e, em certa medida, ocultando as próprias necessidades e inseguranças não atendidas (SP). De qualquer modo, sendo um ESE (+ Te/Ni, Superego), o SX3 investe naquilo que acredita ser mais pragmático e objetivo, tornando-se bastante adaptável e ativo em seus ambientes; no entanto, eles carecem de uma capacidade comparavelmente objetiva de observar e avaliar processos temporais que competem à sua ação emotiva e focada no presente — é difícil calcular os efeitos e viabilidade de um trabalho, assim como os detalhes de ambientes, pessoas, relações e, principalmente, do próprio espírito.

SP4 — Introjeção (Atividade)

» ESI e EII // M, MC e MF // [451], [461], [468] e [469]

O SP4 é o E4 de variante ativa, o que significa que o foco se dá, sobretudo, no Mecanismo de Defesa — a Introjeção. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SP4 pode ter, em sua tenacidade, tanto o auxílio do foco na Fixação (Falsa Deficiência) como na própria Paixão (Inveja).

O foco na Introjeção designa a tenacidade abordada neste subtipo. O SP4 é aquele que acredita ser capaz de se defender de tudo apenas introjetando. Tudo de mais interior é mantido em oculto — se não, é expresso mediante a destruição do outro de modo vingativo (SX), ou mesmo pelos lamentos e pela posição de fraqueza e vulnerabilidade (SO). A dor da comparação é sentida em termos ativos, o que significa que, enquanto o SO4 entra num jogo de comparação emocional, na qual busca o seu próprio valor entendendo a imagem social das pessoas ao seu redor, o SP4 estabelece uma comparação em termos daquilo que lhe concede mais ou menos direito, mais ou menos posição às coisas. Devido a essa característica do seu comportamento, aparece como um E4 um tanto mais racional, podendo, até, ser considerado “um E4 mais brilhante”, por conta da forte capacidade de introjeção e de construção de uma imagem. Sobre a Introjeção: (cit.) “Não é necessário tomar um posicionamento agressivo diante de uma dor que pode ser suportada ou que, na pior das hipóteses, pode servir de gatilho para uma evolução — «tenacidade» também me remete à capacidade curativa da carne: “me machuco, perco partes de mim, mas me torno mais forte”, os SP4 parecem pensar.” (Andrew Neiman)

Aqui, a Falsa Deficiência é vista em termos de sobrevivência. O SP4 parece sentir que nunca tem direito o suficiente para agir. No entanto, quando o tem, torna-se demasiado inflexível na expressão das vontades éticas de seu Ego (– Fi/Se). Por outro lado, caso seja EII, as vontades são pouco expressas, de modo que o foco maior do Ego (+ Fi/Ne) se dá na observação dos valores éticos ativos do mundo exterior, numa decisão de agir ou não agir neste. Um SP4 EII tem como objetos de sobrevivência o caráter potencialmente atrativo de um sujeito ou objeto, de modo que não é necessária a agressividade. Enquanto isso, se for ESI, a sobrevivência não existe em termos dinâmicos, mais estáticos — o que é analisado não é o potencial, mas o estado atual. O primeiro perdoa, e o segundo condena — ambas as decisões para proteger um ego extremamente autocentrado. O que noto de mais diferente no EII é um foco na interioridade maior do que no ESI.

SO4 — Inveja (Emoção)

» EII // M, MS, FM, FS // [459] e [469]

O SO4 é o E4 de variante emocional, o que significa que seu foco se dá, sobretudo, na paixão — a Inveja. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SO4 pode ter, em sua atitude hipersensível, tanto o auxílio do foco na Fixação (Falsa Deficiência) como no M. de Defesa (Introjeção).

O foco na Inveja destaca o profundo sentimento de carência e a comparação tão fundamentais neste subtipo. Naranjo diferenciou os E4s entre “sofredor, sofrido e insofrível”, sendo que o SO4 é o sofredor (enquanto o SP4 é o sofrido e o SX4 o insofrível). Devido ao foco na Inveja, o SO4 é tido como o «sofredor» precisamente porque este é o E4 que mais sente a dor da comparação, aquele que mais se identifica com más qualidades introjetadas e que mais se sente deficiente. Ele é extremamente sensível a emoções, sejam elas próprias ou alheias. Mas o SO4 costuma se entender mais como uma espécie de empata do que um sofredor propriamente dito. Aqui, existe uma dificuldade de se identificar com uma boa imagem, o E4 de modo geral é alguém deficiente no que diz respeito à “capacidade narcisista”. Por causa disso, a dramatização da experiência emocional e a amplificação dos sentimentos de dor, inadequação e carência são constantes na vida do SO4.

“Assim como em uma criança um aspecto funcional do choro é atrair os cuidados protetores da mãe, acredito que a experiência de chorar contém o aspecto de buscar atenção. Da mesma forma que as crianças do eneatipo III aprendem a brilhar para obter atenção (e aqueles que desenvolverão o eneatipo V ou o eneatipo VIII, sem esperanças de consegui-lo, preferiram a vida da retirada ou a vida do poder), aqui o indivíduo aprende a conseguir uma atenção negativa através da intensificação da necessidade, que opera não somente de maneira histriônica (por amplificação imaginativa do sofrimento e da expressão do sofrimento), mas também buscando situações dolorosas, ou seja, através de um curso doloroso da vida.” (p. 107) No entanto, à medida que o E4 cresce em idade, o sentido de carência passa por um processo de narcisização, numa direção que varia a depender do subtipo. No SO4, a valorização do sofrimento se dá num senso de autenticidade, profundidade, complexidade, intensidade e conexão emocional. O que conecta um E4 ao mundo é o sofrimento, sofrimento causado pela incapacidade de perdoar o passado — de modo que o medo de um E4 não é a morte, mas a incapacidade de lamentar por ela. A identificação do SO4 não ocorre com uma imagem construída (E3) ou naturalmente positiva (E2), mas com uma má imagem introjetada, geralmente efeito de uma mãe, família (geralmente com um ou mais irmãos) ou vida repleta de situações emocionalmente castrantes.

No SO4, o foco principal é a comparação invejosa, na qual, vale sublinhar, o indivíduo sempre sai perdendo. Existe uma sensação profunda de deficiência e desejo por aquilo que sente carecer, mas que é percebido nos outros. Esse sentimento gera uma busca constante por comparações que, paradoxalmente, reforçam o senso de inadequação. Na maioria dos casos, a comparação ou o sentido de carência, deficiência e inadequação é a resposta automática e introjetada por parte do E4 — seus cuidadores pareciam o tratar assim, então talvez ele não tenha o direito de sentir o que sente, ou de ter espaço. Desse modo, o E4 entra num padrão de “puxa e empurra” nas suas relações: ele idealiza aquilo que lhe falta, amplificando o sentimento de carência e sofrendo mais do que o necessário (pois se acostumou com essa estratégia, uma vez que apenas sofrendo “o suficiente” algo pode ser conquistado); no entanto, quando adquire seu objeto de desejo, seja uma pessoa, uma posição, um padrão, etc., ele tende a perder o interesse, ou então a se sabotar, pensando que não merece o suficiente — afinal, se nunca teve nada, quando tem, parece que, agora, é o objeto que não é digno o bastante, pois se rebaixou ao seu nível. O tipo Invejoso varia entre um sentimento de inadequação e outro de exclusividade. Ele pode se ver como o ser vivo mais indigno do planeta, mas também pode se ver como único e especial em “virtude” de sua dor, acreditando que ninguém mais pode entender completamente seu sofrimento e suas necessidades — e portanto suas potencialidades.

Aqui, a Falsa Deficiência está numa crença persistente de que existe algo fundamentalmente errado ou faltando dentro de si, de modo a perpetuar um ciclo de autodepreciação e necessidade de validação através dos outros. É da fixação que surge a idealização do mundo, sendo esta uma expectativa de que elas preencham seu vazio interior — mas isso não acontece, e só leva a mais decepções. No entanto, é a Introjeção que “estabiliza” o ouroboros do SO4. Muitas vezes, ele deixa de sentir o próprio sofrimento, engolindo seu veneno para, em vez de chorá-lo, aprender a absorver (e inclusive se alimentar, eu diria) o do outro, identificando-se com uma qualidade “empática” e não exatamente negativa, mas “romântica”. No fundo, entretanto, essa empatia exagerada não denota necessariamente uma bondade, mas apenas serve para enfatizar o próprio sofrimento e carência do SO4. Ao te ouvir, ele não te conforta, mas sintoniza o próprio sofrimento ao seu: “Sim, eu já passei por isso”, “Isso é muito triste, mesmo”, “Dá vontade de...!”, “Foda-se o mundo!”, “Tá tudo bem sentir...!”, “Vai ficar tudo bem”. Os E4s não percebem o próprio narcisismo ao dizerem ao outro aquilo que, inadmitidamente, desejam tanto ouvir.

Diante de qualquer adversidade, o SO4 sofre, mesmo antes de ser acometido por um sofrimento — Naranjo uma vez disse que uma de suas pacientes SO4 lembrava o Bambi, pois andava sempre com uma postura caída, como se dissesse aos outros “Por favor, não me ataque! Veja como sou fraco...!”. Mas não é apenas isso. O SO4 é um personagem bastante variado em suas respostas e relações ao mundo. Ele pode se tornar demasiado passivo para sentir alguma espécie de valor ao ser usado pelo outro; pode narcisizar a própria dor para sentir o próprio valor; pode investir tudo nas dores do mundo, tornando-se alguém empático, romântico ou reflexivo; pode se esforçar para afirmar o próprio valor a partir do próprio sofrimento (a “dor boa”, para Diane Nguyen); e pode viver eternamente lamentando seu passado. Esse caráter hipersensível e sofredor pode, por um lado, ser complementado por uma característica mais tenaz, contida e autossuficiente, por um tom mais resiliente, focado e diligente (SP); por outro, pode contar com uma face mais competitiva, proclamadora e exigente, de modo a desenvolver um sentido mais assertivo e direto sobre as próprias demandas e formas de expressão (SX).

[#] SX4 — Falsa Deficiência (Intelecto)

» ESI // MC e MS // [468] e [478]

O SX4 é o E4 de variante intelectual, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, na Fixação — a Falsa Deficiência. [...]

O foco na Falsa Deficiência pode parecer confuso em primeira instância, mas molda a forma desse ego tão agressivo, protestante, vingativo e competitivo. O foco na Falsa Deficiência não significa que o SX4 é aquele que mais sente uma profunda carência em relação ao mundo — este seria o SO4 —, mas, precisamente, o oposto: o SX4 é aquele que menos sofre, é o «insofrível» dos E4. Ocorre que, como um tipo focado na fixação, o SX4 demonstra uma convicção acerca dessa parte da estrutura de seu ego, além de um constante pensamento sobre ela: aqui, a deficiência não é sentida, mas racionalizada — nesse sentido, o SX4 se assemelha ao SX6 ou ao SX1, que projetam todos os seus sentimentos contra o externo para lidar com o sentimento de insegurança/ira interna.

O SX4 é o invejoso no sentido mais literal da palavra. Ele “Se volta contra a vergonha, tornando-se desavergonhado para, assim, poder satisfazer seus desejos intensos. Portanto, embora seja envergonhado, baterá a todas as portas possíveis. Ele se torna insistente, mesmo contra as frustrações, como se pensasse de acordo com o ditado «o bebê que mais chora é o que melhor mama». «Quanto mais eu reclamar, mais vou conseguir».” Ichazo apelidou este tipo de “Ódio”, dado o fato de que se trata de pessoas intensamente expressivas em relação à sua raiva. No entanto, Naranjo preferiu designar um nome mais cabível à necessidade neurótica do SX4. Ele chamou o tipo de “Competição”, de modo que a Inveja, aqui, pode ser entendida como uma inveja oral agressiva, que morde. Nesse jogo de comparação, se o outro é melhor ou pior, e se ele causa raiva ou dor, deve ser destruído, atacado. Naranjo elabora: “A psicanálise fala de impulsos «canibalísticos». Não apenas deseja, mas deseja enraivecidamente. É este o pecado de Caim — nosso antepassado: «Te invejo, e por isso te mato». Invejo os ricos, e começo uma revolução. Invejo sua superioridade intelectual, e por isso cortarei sua cabeça (então... parecerei mais alto!) E, ao falar de decapitar, estamos falando da invalidação, do desprezo, da agressão expressa na desvalorização do invejado.”

Notadamente, como um ESI (exclusivamente), o SX4 lida com os sentimentos de modo interno: o outro é destruído em seu mundo interior; e, se necessário, será manifestada uma agressividade a nível físico — mas não porque o SX4 é um emocional (Fe), e sim porque se vê na necessidade de proteger seus sentimentos mais internos (Fi) impondo a própria vontade e os próprio sentimentos sobre o outro, de modo a destruí-lo com tudo aquilo que conhece sobre seu conteúdo e sua posição no mundo. No SX4, é como se o mecanismo de defesa da Introjeção buscasse uma orientação inversa: para equilibrar a introjeção e a absorção das qualidades e sentimentos que o podem fazer sentir carente e sofrer, o SX4 racionaliza a própria defesa e, evitando o sofrimento, faz o outro sofrer ao invés. Mas isso não quer dizer (pelo menos não necessariamente) que o SX4 é monstruoso. Ele lembra um tanto o SX8, dado que é o único tipo intestinal possível em seu Tritipo. E, assim como o E8, o SX4 só expressará a sua vontade de modo agressivo à medida que se sentir agredido pelo mundo. Sobre o E8, Naranjo diz: “[...] uma aspiração a responder à violência com a mesma veemência e força, enquanto espera o dia da vingança final.”

Entre todos os E4, o invejoso contradeficiente é aquele em que mais se nota um aspecto sonhador. Aqui, há uma busca intensa e profunda por experiências emocionais significativas, um anseio por conexões fortes e autênticas. Como todo E4, o SX4 sofre, sim — diferente do que pode ser inferido numa análise superficial. Mas ele sofre de uma forma distinta. Enquanto o SP4 engole o próprio sofrimento e o direciona à ação concreta e o SO4 acaba sendo aquele que mais vomita seu veneno colorido e que mais o usa para pintar belos quadros, o SX4 não se cala e nem chora – ele grita! Um bebê sofredor é capaz de permanecer em silêncio, mas um bebê insofrível berra a todo instante. O grito tem um caráter protestante. Aqui, a carência sentida tanto pela inveja quanto pela intolerância à frustração busca ser superada mediante a expressão raivosa dessas supostas necessidades. E dois fatores trazem algo relevante para a compreensão do SX4 em sua expressão: 1º, a estratégia do grito funciona bastante na infância, mas na vida adulta pessoas protestantes não são tão toleradas ou satisfeitas; e 2º, o nível de sofrimento esperado para que um adulto “mereça” a sua satisfação é infinitamente maior do que o de um bebê ou uma criança. Devido à soma desses dois fatores, o SX4 pode chegar a dramatizar suas emoções, de modo que se sente mais vivo, conectado com os outros e, inevitavelmente, satisfeito. (No pior dos casos, pode-se ameaçar o outro de um suicídio para obter a satisfação terrena. Mas o SO4 também pode fazer isso — a diferença é apenas o grito, em contraste com o choro.)

O SX4 parece viver a Falsa Deficiência de modo diferente em comparação aos outros dois subtipos. Quando [468], pode parecer mais terreno, no entanto, quando [478], é extremamente mais idealista em sua vida. A comparação parece ser vivida mais numa comparação de desejo do que realmente factual ou concreta, como ocorre com o SP ou com o SO4. O SX4, portanto, demonstra análise e crítica constantes sobre as próprias ações e emoções, tentando entender o que está “errado” ou o que “falta” em si. Mas essa busca também se reflete, é claro, ao outro — como em toda fixação. Sua busca por completude se dá em relacionamentos e experiências, as quais ele idealiza na esperança de ter supridas suas necessidades emocionais. A maior dificuldade de qualquer E4 é reconhecer até onde realmente carece de algo, e a partir de que ponto passa e projetar o próprio ser numa conexão emocional validativa com os outros. Ao que me parece, o SX4 tem uma dificuldade maior em comparação aos outros subtipos no que se refere à compreensão do próprio estado mais interno. A necessidade interna, então, é sentida como um desejo profundo de ter o que os outros têm, seja o que for, desde uma qualidade, até uma experiência, ou mesmo uma conexão.

A comparação sempre é dramática, e o SX4, como o mais literalmente invejoso, parece rivalizar com os outros em suas qualidades, posses, forças e conexões. Na comparação, busca-se uma espécie de autovalidação, uma prova do próprio valor, uma prova que vai contra as próprias deficiências inadmitidamente introjetadas. O SX4 parece o mais extrovertido dos E4s, e talvez por isso a expressão de sua inveja seja está de uma comparação consideravelmente mais voltada ao outro do que a si mesmo. Quero dizer, o SP4 reconhece a carência e decide agir a partir dela, e o SO4 sofre sobre sua deficiência, buscando ser e existir mediante o apego e a proteção. Mas o SX4 parece se ver na necessidade de provar algo aos outros para, somente então, reconhecer isso dentro de si mesmo. Um ESI costuma destruir o outro dentro de si, mas vejo que o SX4 só consegue destruir o outro dentro de si se ele sentir que o outro também foi objetivamente destruído, seja mediante vingança, grito ou agressão.

[...]

SP5 — Isolamento (Atividade)

» ILI e SLI // M, F, MC, MF e FM // [593] e [594]

O SP5 é o E5 de variante ativa, o que significa que o foco se dá, sobretudo, no mecanismo de defesa — Isolamento. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SP5 pode ter, em sua atitude de refúgio, tanto o auxílio do foco na Fixação (Mesquinhez) como na própria Paixão (Avareza).

O foco no Isolamento designa o refúgio abordado neste subtipo. O SP5 é aquele que acredita ser capaz de fugir de todos, de todas as coisas. Este é o E5 mais dócil e menos expressivo em qualquer sentido, aquele que é mais observador, das expressões mais embotadas. Diante de qualquer sentimento de perigo ou insegurança, em qualquer âmbito de sua vida, este se isola — caso contrário, a defesa é sustentada pelo apego a dogmas e fatos objetivos e totemizados (SO), ou mesmo por uma avareza bastante mais pronunciada, que mantém uma extrema reserva em relação aos próprios sentimentos, valores e desejos (SX). A reserva ocorre em termos ativos, o que significa que, enquanto o SO5 pode manifestar um isolamento mesmo estando em contato social, e enquanto o SX5 é aquele mais emocionalmente retirado e avarento, o SP5 pode ser entendido como o E5 mais fisicamente isolado. Aqui, a avareza se manifesta mais como um movimento defensivo de retraimento diante do mundo.

No SP5, a Mesquinhez é vista em termos de sobrevivência. O tipo do refúgio parece nunca sentir algo que o leve a um real contato e abertura com o mundo exterior, seja uma vontade, uma liberdade ou, como tópico central, uma «segurança». Mesmo quando estabelecem um contato mínimo com o mundo exterior, parece haver algo que os impede de manifestar suas emoções com uma maior liberdade. Isso pode ser entendido através do seu Superego (– Si/Fe). Por outro lado, caso seja SLI e não ILI, os sentimentos do SP5 sobre o mundo podem ser expressos de maneira um tanto mais “agressiva”, “áspera”, eu diria. Também reparamos um maior apego ao conforto no SLI (+ Si/Te), enquanto no ILI (– Ni/Te) observamos muito mais uma preocupação com o perigo.

O SP5 ILI busca a sobrevivência através da observação do mundo, tem extremo foco na reflexão sobre o mundo — reflexão esta que o leva a um processo de validação dos métodos dos quais se vale para se mover no mundo de modo pragmático (– Te: “Processos”). Por outro lado, o SP5 SLI tem muito mais de uma posição de conforto sobre o mundo em vez de uma observação tão distanciada, tem muito mais foco naquilo que mantém seu espaço saudável, tanto em sentidos de relação como de ambientes. Ademais, a busca por conforto leva a um processo de ação com foco nos resultados diretos (+ Te), de modo que este pode ser um tanto mais “áspero” ou “criptografado” em relação ao primeiro. O ILI observa, enquanto o SLI age — duas atitudes que agem em virtude da proteção de um ego extremamente tímido, inseguro, sensível, vulnerável, um ego que encobre aspectos emocionais com um trabalho sobre fatores lógicos e objetivamente avaliáveis.

(Def) Isolamento, retirando-se emocionalmente dos outros para evitar ser sobrecarregado ou invadido. Este comportamento permite que os E5 mantenham sua autonomia e independência, mas pode levar ao isolamento e à desconexão social, uma vez que evitam compartilhar seus recursos e conhecimentos com os demais.

SO5 — Mesquinhez (Intelecto)

» ILI e LII // F, M, MF, MC e FS // [513], [514], [593] e [594]

O SO5 é o E5 de variante intelectual, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, na fixação — a Mesquinhez. Essa fixação traz à vida do E5, especialmente em seu direcionamento social, aspectos de economia, medo de intrusão, limitação, retraimento, pessimismo e redução. O SO5 se protege da intrusão do mundo mediante a avaliação lógica dos objetos e pessoas no mundo, refugiando-se numa torre de marfim e jogando seus cachos apenas àqueles que se provam objetivamente bons ou agradáveis em sua vida.

O foco na Mesquinhez nos ajuda a entender a natureza intelectual, quintessencial, sublime e retirada do SO5. “Totem” foi o nome atribuído a este subtipo por Naranjo, pois se trata de um personagem altivo e que constrói seu próprio ser em vez de simplesmente sê-lo por natureza. São pessoas com um desejo pelo absoluto, que olham para céu buscando o ideal, concentrando-se apenas nos objetos mais notáveis e destacados em meio ao céu. Ele busca por um supervalor, algo elevado e essencial, implicitamente desprezando a vida ordinária e as pessoas comuns e, portanto, retirando-se de sua vida «aqui embaixo». Enquanto o SP5 é aquele que vive através do isolamento, evitando a sobrecarga e a invasão, e o SX5 é aquele que busca o ser mediante a retenção dos próprios recursos e energia aceitando dentro de si somente os objetos e recursos com que estabelece uma relação íntima e profunda, o SO5 parece ser o mais descrito por Naranjo ao longo de “Caráter e Neurose”. Este é um subtipo que se defende do medo da intrusão acumulando conhecimento e informações, de modo que se sentem seguros e preparados diante do mundo.

O SO5 busca incessantemente pelo sublime, por conexões intelectuais profundas e significativas. É fundamental neste tipo a valorização da sabedoria e do conhecimento, de modo que este se dedica a compreender conceitos elevados e teorias complexas. Para lidar com o sentimento de ansiedade existencial em relação à segurança (natural de sua tríade), o SO5 se vê na necessidade de se afastar da banalidade e de se conectar apenas com aquilo que considera especialmente essencial. Em contraste com o SP5, que se isola de modo ativo, físico e um tanto não pensando ou mesmo narcótico, o SO5 se isola por uma escolha pessoal e pronunciadamente consciente. Enquanto o SP5 é mais desapegado e sensível, o SO5 corresponde mais àquilo que Naranjo descreveu da seguinte forma: “A inibição dos sentimentos e da ação, juntamente ao foco cognitivo, resulta na característica de ser um mero espectador da vida, um observador desimpedido, mas interessado, que parece estar buscando substituir a vida pela compreensão desta.” Além disso, ele cita Karen Horney: “Uma vez que o desapego é nele uma atitude geral e sobressalente, é também um espectador dos outros. Vive como se estivesse sentado na plateia, observando o drama que se desenvolve no palco, um drama que, por sinal, não lhe parece muito interessante na maior parte do tempo.” O E5 vive separado do mundo por trás de uma barreira intransponível.

Enquanto o SP5 é o isolado e o SX5 o avarento, o SO5 é mesquinho, apresentando um ego cuja defesa se fundamenta na economia, na limitação, no retraimento e no pessimismo diante de medos centrais como a intrusão e a dependência. A intelectualidade é a maneira como o SO5 se defende do medo da perda do essencial, de modo que ele se foca precisamente na restrição, evitando o desperdício de seu tempo e energias em atividades/relações que não considera valiosas. O SO5 evita se envolver em situações sociais ou emocionais que possam drená-lo. A retenção, portanto, é necessária para preservar sua autonomia e segurança. Somente aquilo que ele percebe como valioso, razoável ou essencial é admitido em seu mundo interno de sentimentos ocultos e duramente protegidos; caso contrário, permanece retido, reservado, fechado e econômico.

Diante de uma adversidade, o SO5 pode variar em sua reação. É um tipo complexo com uma gama de combinações. Ele pode ser ILI ou LII, e também pode ter quatro bases de Tritipo distintas. Um (SO) 59x se refugia dentro do próprio pensamento de modo filosófico, e parece mais socialmente ativo e livre, embora não esteja realmente conectado com o mundo. Um 51x age de modo mais grave em suas filosofias, de modo mais logicamente decisivo e assertivo. Um 53x se importa mais com o uso objetivo de seus conhecimentos, de modo que me parece justo destaca-lo como o SO5 que “deseja ser o próprio totem”. Este é mais orgulhoso, arrogante e literalmente intelectual (pelo menos com E1 baixo), é aquele mais isolado na torre de marfim. Enquanto isso, o 54x é tão retraído em seu pensamento quanto o 59x. Entretanto, este é mais melancólico, mais preocupado com valores éticos (no sentido sociônico) e potencialmente mais distante deste plano.

Ademais, existe uma diferença fundamental entre os SO5 ILI e LII. O ILI é ([Ni-Te]-[Si-Fe])–, enquanto o LII é ([Ti-Ne]-[Fi-Se])–. Nesse sentido, o ILI se preocupa mais em entender todas as possibilidades e eventos de um ambiente, compreendendo seus processos para, assim, tomar consciência dos efeitos dos objetos ao longo do tempo para investir no cuidado — poderíamos dizer que este “observa padrões”. Por outro lado, o LII possui um enfoque maior no julgamento das informações a fim de incrementar a própria independência e, em contraste com o ILI, existe um maior foco na exploração de possibilidades e capacidades latentes. Outrossim, enquanto um possui Superego [Si-Fe], o outro lida com [Fi-Se]. Deste modo, um LII aparece com uma quantidade notadamente maior de formalidade em seu comportamento, e seu problema será no aspecto volitivo: seus ideais lógico-éticos são rígidos, mas a noção da expressão das vontades sobre os próprios conceitos é geralmente fraca, além de contar com um tom preconceituoso diante daqueles que são «brutos». Por outro lado, o ILI se preocupa mais com o conforto de sua existência do que propriamente com um julgamento criterioso e áspero, enfrentando maiores dificuldades na expressão e compreensão de suas emoções num contexto ético-social do que na expressão de suas ideias mais próprias.

Portanto, qual seria a diferença principal entre esses dois? Acho justo dizer que um deles é o mais intelectual, enquanto o outro é mais existencial. O LII tende à arrogância e à rigidez, enquanto o ILI tende mais à distância do plano terreno. Entretanto, ainda assim existe uma necessidade fundamental: definir um valor intelectual sobre os objetos para, só então, decidir se irá, ou não, deixá-lo entrar dentro de seu ser e permitir ser marcado profundamente por ele. Nessa busca pela compreensão de valor lógico sobre as coisas como uma defesa do mundo, um SO5 pode variar nos aspectos secundários dessa criteriosidade. Geralmente trata-se de um isolamento mais ativo e de uma minimização das necessidades, de modo a se refugiar no sentido mais literal da palavra (SP). Todavia, ainda há aqueles tipos mais rígidos, cuja criteriosidade ganha um tom julgador e ético. Os critérios são duas vezes mais altos, e para que sejam permitidas sua entrada e sua marca, não se exige apenas o valor lógico, mas também o ético. Nesse sentido, existe uma necessidade de ser íntimo com os objetos. Após ser aceito pelo cérebro, é necessário que este seja aceito também pelo coração, que é duas vezes mais duro e mais oculto — caracterizando-se, portanto, pelo instinto auxiliar SX.

SX5 — Avareza (Emoção)

» IEI e ILI // M, (MC), F, FM e FC // [514], [584] e [594]

O SX5 é o E5 de variante emocional, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, na paixão — a Avareza. O SX5 manifesta a atitude de um «romântico absolutista», caracterizando sua avareza como uma distância do mundo e o cultivo de um mundo interno particularmente valioso. Sua busca é pelos objetos ou sujeitos que sejam dignos ou merecedores de adentrar esse mundo, o que pode se diferir numa busca intelectual pragmática ou ética e, em qualquer caminho, crítica.

O foco na Avareza nos ajuda a compreender a natureza paradoxalmente distante e fascinada pelo mundo do SX5. Este E5 é semelhante ao E5 social no sentido da busca pelo extraordinário, i.e., aquilo que está “no topo do totem”; no entanto, a busca do E5 sexual se dá pelo amor absoluto. Naranjo chama o SX5 de «Confiança», destacando assim a busca passional apresentada por este tipo, referindo-se, portanto, a um sentido de confiança no outro. Se o SX8 apresenta um sentido de posse mediante a fascinação, o SX5, simetricamente oposto num sentido de racionalidade sociônica, destaca uma necessidade de possuir o outro mediante a confiança. Nessa linha, se o SX8 (Intestinal) visa o controle, a posse e o poder sobre o outro em prol de afirmar sua própria identidade e espaço como indivíduo, o SX5 (Cerebral) tem uma atitude simetricamente oposta: não há precisamente uma necessidade de “controlar” o outro, mas de estabelecer o contato entre as partes mais quintessenciais entre o indivíduo e outros sujeitos ou objetos em maior ou menor escala. Deste modo, o SX5 busca alguém que “realmente entenderá seu mundo interno”, o que podemos observar, em comparação com os outros dois subtipos, como uma reação da Avareza não mediante o distanciamento/isolamento ou o culto à sabedoria, mas como uma restritividade no que diz respeito às relações do indivíduo: somente quem realmente o entende pode adentrar o seu mundo interno e mais essencial — e uma vez que o SX5 perceba isso, lutará com todas as forças e meios por seus ideais, “desejos” ou «visões».

Um SX5 varia muito em seu comportamento a depender de seu Tipo Sociônico. Em relação aos seus objetivos criativos, ele tem um foco essencialmente cronológico — se for um IEI, seu foco temporal é direcionado às relações; se for ILI, esse foco é direcionado a ações e eventos. Dados os seus «supervalores», o SX5 pode adotar atitudes bastante extremas é reprováveis para defender ou mesmo impor aquilo em que acredita ou está convicto em seu aspecto criativo. No caso de um IEI, as relações podem ser forçadas, como se os sentimentos de uma pessoa pudessem ser transformados ao longo do tempo (ref. 549), ou mesmo ideais éticos num contexto social mais amplo que podem passar por esse longo processo tido como «manipulativo» por aqueles de fora. No caso do ILI, no entanto, notamos o comportamento extremista num sentido muito mais pragmático em vez de relacional/ético. Um bom exemplo disso é Nietzsche com seu militante posicionamento contra os dogmas religiosos, por exemplo: “Deus está morto. Deus permanece morto. E nós o matamos.” Mas, além disso, o SX5 pode adotar uma comportamento bastante excêntrico ou altamente erudito, que me parecem ser essencialmente formas de, como o ESI o faz, “testar” as pessoas com as quais se relacionará. Nesse sentido de expressão o SX5 difere dos outros dois subtipos, pois, para facilitar o controle das relações e a sensação de segurança, podemos observar dois extremos: por um lado, há aqueles que, como mencionados, são excêntricos ao seu limite, como se não tivessem pele ou carne “bloqueando” sua verdadeira essência — o que corresponderia predominantemente aos IEI; por outro, no entanto, observamos mais um comportamento altamente erudito, de modo que existe um distanciamento emocional das relações e, até em seu modo de falar, surgem barreiras que não expressam suficientemente a sua personalidade a ponto de poder ser atacado onde mais lhe dói. De modo geral, como tipo cerebral, a afirmação da segurança surge, em contraste com o isolamento e o culto intelectual, mediante uma confirmação prática em relação àquilo que diz respeito ao seu fator criativo. Isto é, se há determinação sobre o aspecto criativo, o SX5 entrará numa atitude compulsiva sobre este, considerando, sobretudo, seu programa temporal.

Sobre tudo acima discutido, deve-se compreender que o SX5 é o personagem que lida com uma busca intensa por uma conexão emocional profunda e significativa, pelo «amor absoluto», o que, como toda necessidade neurótica, se aplica tanto a objetos como sujeitos. E, quando falamos de «amor absoluto», falamos da necessidade do E5 sexual de encontrar alguém em quem possa confiar completamente, alguém que compreenda e aceite todas as suas complexidades, vulnerabilidades e até monstruosidades, seja no sentido que for. Essa busca torna o SX5, implícita ou explicitamente, alguém emocionalmente hipersensível, lidando mal com rejeições ou falhas nas relações pessoais e, por isso, inclinado a ser muito seletivo em suas conexões, buscando apenas aqueles que acredita poderem corresponder à sua intensa necessidade de confiança e compreensão — busca que, como mencionado, pode se dar tanto no IEI como no ILI, embora de maneiras especialmente distintas. Em vista dos traços fundamentais de «mundo interno», «idealização» e «bolha existencial» do E5 geral, podemos observar como, no SX5, o mundo interno, pode-se dizer, busca por aquilo ou aqueles que possa «absorver» em si — o que leva ao sentido de “posse” simetricamente oposto ao E8.

A Avareza do SX5 se manifesta como uma necessidade compulsiva de proteger seus recursos emocionais e intelectuais, ou existenciais. Ele sente que tem pouco a oferecer, o que o leva a reter seu afeto, suas emoções, seu conhecimento e, de modo geral, sua existência, somente àqueles que julga realmente dignos e «de confiança». Aqui, a proteção emocional se dá numa restritividade extrema, como se o indivíduo verdadeiro existisse por trás de inúmeras muralhas (e não meramente um castelo), e seria merecedor de sua confiança e abertura somente aqueles naturalmente capazes de abrir seus portões. No entanto, ao que me parece, o SX5 concede apenas chances únicas. Alguém que entrou no canto mais interior de sua alma pode ser expulso, e então nunca mais chegará àquele ponto, embora possa chegar perto novamente. Essa seletividade dos relacionamentos lembra muito o ESI, mas, aqui, em vez de uma questão de sobrevivência, trata-se bem mais de uma busca por segurança mediante o mantimento de um alto grau de controle emocional. Somente assim os SX5 se sentem capazes de evitar qualquer risco de vulnerabilidade, rejeição e, portanto, insegurança.

De modo geral, a Mesquinhez do SX5 se manifesta como a visão limitada e restritiva de seus próprios recursos e capacidades, conforme mencionado. No entanto, devemos prestar especial atenção ao modo como tendem a minimizar a importância de suas emoções e a subestimar sua capacidade de conexão com os outros, o que os leva a manter sua postura caracteristicamente defensiva e reservada — se podemos dizer do SP5 alguém isolado num castelo, poderíamos, de acordo, dizer do SX5 alguém que aspira e encarna uma «fortaleza» espiritual. O SX5 pode evitar expressar suas necessidades emocionais e se retrair diante de situações onde pode se sentir exposto ou vulnerável, e também costuma acreditar ter pouco a oferecer em termos emocionais e, portanto, prefere manter uma distância segura dos outros para evitar qualquer demanda ou expectativa. (Vale frisar o contraste entre o IEI e o ILI no sentido de como expressam esses traços e sobre o quão conscientes são sobre eles.) Contudo, independentemente do modo como expressam ou agem sobre isso, é característica básica do SX5, em vista do risco de vulnerabilidade emocional, a manutenção de uma distância emocional significativa a fim de evitar o envolvimento profundo com os outros e de se proteger de potenciais feridas emocionais.

Ademais, os SX5 também podem ser especialmente distintos entre si devido ao Tritipo. Os 514 manifestam um ideal muito mais afrontoso num sentido de “o caminho correto”, sendo que os ILI têm sobre este um foco pragmático, enquanto os IEI o manifestam mais como um ideal ético criativo. Os 594 costumam ser confundidos pelos leigos da comunidade como E7 sexuais, dado o modo como passam por um processo complementar de fusão em relação ao seu amor absoluto. Os SX5 desse Tritipo lidam com uma grande idealização e admiração do movimento de conexão devido ao [SX9], seja essa movimento, como dito, literal ou subjetivo — o que pode ser confundido com o tom de fascínio ao mundo do SX7. Uns SX5 podem deleitar-se da existência explorando os imperdoáveis mares e afrontando a sociedade opressora, enquanto outros podem maravilhar-se do contato com a poesia, com a delicadeza do mundo e com a grandiosidade da profundidade do «amor absoluto» ou mesmo da espiritualidade. No entanto, observamos um confronto emocional e um comportamento crítico especialmente eminentes nos 549, um tipo de SX5 especialmente flamejante nos testes que realiza sobre o mundo e as pessoas que nele habitam. Costuma ser mais crítico, irônico, sarcástico, ácido, idealista e, potencialmente, excêntrico, idiossincrático. De qualquer modo, o traço fundamental do SX5 como um «romântico absolutista» pode, por um lado, ser sustentado por uma gana bastante mais pronunciada em relação ao reconhecimento e à profundidade intelectual, manifestando o isolamento e os valores absolutos de modo muito mais consciente e, poder-se-ia dizer, autoritário (SO). Noutra mão, no entanto, o SX5 pode ser equilibrado por um sentido de refúgio e por uma busca por segurança e estabilidade mediante uma autossuficiência e reclusão mais inconscientes e sobrevivencialistas, manifestando forte apego por seus recursos materiais e emocionais e valendo-se do isolamento físico e emocional para sentir-se seguro (SP).

SP6 — Medo (Emoção)

» EII // MF, FM e FS // [694] e [692]

O SP6 é o E6 de variante emocional, o que significa que seu foco se dá, sobretudo, na paixão — Medo. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SP6 pode ter, em sua atitude castrada, tanto o auxílio do foco na Fixação (Dúvida) como no M. de Defesa (Projeção).

O foco no Medo designa a covardia e a afabilidade abordadas neste subtipo. O SP6 é o mais covarde, o mais medroso e de menor presença e força. É o menos afirmativo sobre aquilo que acredita, e também o único dos E6 de alinhamento ético (EII). O Medo, isto é, a inibição da ação devido a um fator de ansiedade relativo à culpa e à dúvida (castração), é mais pronunciado neste subtipo se comparado aos outros. Devido ao seu Superego, o SP6 (+ Ti/Se) não possui uma capacidade afirmativa (uma capacidade volitiva, de confronto), e parece investir tanto quanto pode na tentativa de cooperar com os outros e ser útil num grupo, comunidade ou sistema.

Diante de qualquer sentimento de perigo, impotência, insegurança ou possibilidade de confronto, em qualquer âmbito de sua vida, o SP6 se apega afetivamente. Apega-se à ruminação, a uma autoridade mais poderosa, a um pensamento mais elaborado (uma filosofia ou dogma aderido). Todos os E6 agem para compensar a parte de sua psique que lhes parece mais vulnerável. Assim, se o SO6, p.ex., investe suas energias para ter certeza absoluta das coisas, e se o SX6 investe no movimento e na intimidação, o SP6 investe numa espécie de afabilidade. Naranjo disse que são como “ursinhos de pelúcia esperando por um abraço”, mas eu veria mais como um personagem que, acima de tudo, busca parecer doce, correto, aprovável, tudo isso para poder ser adotado e protegido sob asa terna. A busca pela proteção (pela ternura) pode, por um lado, ser sustentada pela busca por uma maior convicção ética, pela busca constante pela certeza dos valores e efeitos éticos de suas ações, desejos e até mesmo existência (SO). Por outro lado, essa busca pode ser suportada por um investimento em formas de seduzir e, eventualmente, até afirmar os próprios desejos (SX).

Como um EII (exclusivamente), o SP6 é bastante reflexivo sobre as relações éticas e sentimentos das pessoas, bem como sobre as potencialidades latentes de cada um (+ Fi/Ne). Ele experimenta uma ansiedade crônica sobre aquilo que deve ou não fazer, o que “deve” ou não desejar ter, fazer, sentir, etc. No entanto, quando essa ansiedade pode ser superada e o SP6 finalmente é capaz de se permitir a liberdade para agir, pode ser razoavelmente mais assertivo sobre as coisas, além de ser uma pessoa bastante acolhedora e, quando na liderança, devidamente responsável, honesta e comunicativa.

SO6 — Dúvida (Intelecto)

» LII e LSI // M, MC, MF e MS // [613] e [614]

O SO6 é o E6 de variante intelectual, o que significa que seu foco se dá, sobretudo, na Fixação — a Dúvida. O SO6 é um caráter prussiano que conquista a segurança buscando estabelecer certezas sobre a vida e se tornando um vigilante.

O foco na Dúvida destaca o comportamento hipersuspeito e hiper-racional do SO6. A necessidade deste tipo é, sobretudo, uma necessidade de conquistar segurança no mundo. Neste caráter prussiano, constrói-se um sistema intelectual rígido e confiável. Há uma intolerância à ambiguidade, mas não se trata necessariamente de uma intolerância de tom preconceituoso, e sim de uma incapacidade de lidar. Coisas ambíguas trazem à tona o sentimento de ansiedade, por isso há essa necessidade de conseguir prever e controlar possíveis ameaças mediante o entendimento claro e detalhado da realidade, e somente assim podem sentir-se seguros. Os SO6 estão preocupados, antes de tudo, com o ponto de referência. Eles têm a mente de um legislador, com categorias claras. Sua orientação intelectual é a de saber muito bem onde está o norte, onde está o sul, o oeste e o leste. Devido a isso, a castração se dá numa valorização da conformidade a normas e regras estabelecidas por um grupo de autoridade.

O apego do SO6 ocorre em relação a dogmas e axiomas. Esses indivíduos valorizam a lealdade a adesão a padrões éticos extrínsecos — somente assim pode-se garantir a proteção e evitar conflitos. Um SO6 tende a questionar e a desconfiar, tanto de si mesmo quanto dos outros. A dúvida, sua convicção intelectual, é um modo de evitar a tomada de decisões impulsivas e de se proteger de possíveis traições — isso difere do SP6, cujo modo de lidar com a insegurança é principalmente a «castração» propriamente dita, ou seja, a inibição da ação espontânea e do desejo. Assim sendo, o SO6 realiza uma análise minuciosa de todas as situações e informações possíveis, buscando a segurança (foco do E6) através da depreensão detalhada e precisa do mundo que o contorna. As próprias ações são constantemente questionadas, e também as intenções do outro. Existe uma ambivalência em relação àquilo que se tem por «inimigo». O SO6 é um hipervigilante, pois, por efeito da projeção, existe uma confusão: “O outro é o inimigo, ou será que sou ele eu mesmo?” Mas a projeção, assim como tudo no SO6, é ambivalente. A culpa, a responsabilidade e a insegurança podem ser deslocadas e postas sobre os outros, de modo que o SO6 se mantém seguro de si mesmo. Podemos observar duas situações possíveis. Em uma, o E6 se sente ansioso sobre suas próprias capacidades de trabalhar em grupo, e então passa a exigir muito dos outros, como se eles não fossem confiáveis. Em outra, no entanto, o E6 pode assumir a responsabilidade por um grupo evidentemente irresponsável e culpar a si em vez de considerar os outros como «inimigos».

Diante de qualquer adversidade, o SO6 se vê na necessidade de restabelecer a certeza e realinhar sua bússola moral. Ele consulta autoridades no assunto em questão e conta com todo o conhecimento que tem para resolver as coisas de modo puramente racional. O SO6 é um tipo que vive sempre a priori, e todo esse aspecto de dúvida e ansiedade moralista pode, por um lado, ser sustentado por um sentido de ternura, de apego e atenção ética (SP). Por outro, pode haver uma imposição mais ativa, forte e confrontadora dos sentidos valorizados por este tipo (SX).

SX6 — Projeção (Atividade)

» LSI // MC // [683] e [684]

O SX6 é o E6 de variante ativa, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, no Mecanismo de Defesa — a Projeção. O SX6 é um caráter contrafóbico, pessimista, agressivamente defensivo, proativo, desconfiado e confrontador que busca superar os sentimentos de medo, insegurança e vulnerabilidade mediante um latido feroz, um fingimento de possuir um falo poderoso. Para o SX6, a autoridade é uma figura forte.

O foco na Projeção nos ajuda a compreender a atitude contrafóbica, desafiadora e forte do SX6. Enquanto o SP6 visa conquistar a segurança tornando-se algo como um animal de estimação e o SO6 se defende de forma suspeita e hiper-regrada diante do mundo, o SX6 projeta a insegurança em diversos sentidos. O medo tende a ser enfrentado de forma mais agressiva e desafiadora, de modo que o próprio mundo também é combatido mais direta e mais «ativamente». Se o SP6 é um caráter fraco, o SX6 é simetricamente oposto: ele é forte — todavia, bem como a fraqueza do SP6, a força do contrafóbico reflete precisamente o oposto dos verdadeiros sentimentos, desejos e identidade do indivíduo. (Os E6s agem de modo a favorecer o seu foco: o SP6 adota uma postura fraca para que o protejam em seu medo; o SO6 busca a certeza para superar a dúvida; e o SX6 projeta em todas as direções e à queima-roupa para superar o medo.) O SX6 busca superar as inseguranças por meio da ação e da “coragem”, demonstrando força e poder para afastar possíveis ameaças, garantindo assim um sentido de segurança. Esses indivíduos frequentemente adotam uma postura mais assertiva e, por vezes, agressiva, pois somente assim sentem-se protegidos e, no mesmo sentido, sentem que podem proteger aqueles ao seu redor.

O SX6 se move com base num sistema de valores absolutamente subjetivo e em sua própria filosofia de vida — que ele acredita corresponder a uma realidade objetiva. Ele constrói sua identidade a partir da convicção. A vulnerabilidade (razão do medo) é ocultada sob a fachada de uma personalidade dura, agressiva e hostil. Essa personalidade também serve para pôr em prova a qualidade objetiva das pessoas e figuras a seu redor. O outro não deve ser confiado, não deve ser aceito (o SX6 está sempre de guarda alta), e a autoridade – deve ser devidamente confrontada, deve-se exigir dela aquilo que o cargo de «autoridade» (segundo a filosofia de vida rígida do SX6) requer [ver “Stain”, de “Boku no Hero Academia”]. Nesse mesmo sentido, os SX6 tendem a afastar as pessoas, pois têm medo de serem usados novamente. Em vez de assumir relações, o SX6 assume os rótulos que lhe são atribuídos: ele busca projetar uma imagem, seja ela a de alguém genial, forte, intimidador, sensual, masculino, etc. Fundamentalmente, o SX6 é extremamente desconfiado, isolando-se dos outros e agindo com certa impulsividade diante de uma ameaça — por menor que seja, como no caso da anedota do homem que matou seu anjo da guarda, citado por Claudio Naranjo em “27 Personagens em Busca do Ser” (p. 298). Todavia, o latido agressivo e persistente deste cachorro parece refletir o seguinte pensamento: “Se eu parecer forte, intimidador, poderoso, belo, não preciso ter medo dos outros”. A projeção está exatamente neste aspecto — o SX6 transfere a culpa de si para o mundo a fim de evitar os próprios sentimentos de medo e vulnerabilidade; e, ao mesmo tempo, uma imagem agressiva é construída para (inadmitidamente) afastar o mundo. O SX6 parece querer, por meio dessa personalidade projetada, mostrar-se mais perigoso ao mundo do que o próprio mundo lhe parece — ele “late mais alto”.

Acredito já ter destacado devidamente, além do comportamento, todas as reações do SX6 diante de adversidades. Portanto, alterarei a estrutura da descrição deste tipo a fim de equilibrar a qualidade informacional à dos demais. O SX6 lembra muito um E8 devido ao seu tipo de IM (LSI, [Ti-Se]+), mas sua atitude é definitivamente distinta. Como todo E6, o contrafóbico possui uma relação com a figura e com a posição de autoridade. Alguns SX6 podem ser notavelmente esforçados para alcançar o posto de autoridade (mas não para ganhar algum direito, como faria um E1, e sim para garantir sua segurança), enquanto outros assumem uma postura mais voltada ao desafio/à exigência em relação à autoridade. Na filosofia lógica e forte do SX6, uma autoridade deve providenciar segurança de diversas formas, e, se não o fizer, deve ser confrontada — e, por vezes, o SX6 pode assumir esse papel em virtude de algum sentido de justiça ou vingança [8]. Nesse mesmo sentido, o SX6 parece assumir o seguinte: 1. “A autoridade é conquistada pelo poder”; e 2. “Somente uma autoridade forte pode trazer a segurança” — o que pode levar a um terceiro pensamento: “Uma autoridade medíocre deve ser confrontada para, então, trazer de volta a segurança”. (Destaco, aqui, que «autoridade» e sua violação podem se referir a vários tópicos distintos, como uma linha moral, um sentido de identidade, liberdade, poder, racionalidade, etc.) Quando complementado pelo instinto de autopreservação (SP), o SX6 não é necessariamente mais afável, terno e acolhedor, mas, muitas vezes, mais preocupado com o direcionamento contrário desses traços: ele se preocupa se o outro é confiável, acolhedor e seguro, e se pode estabelecer com ele uma relação de aliança e proteção mútua. Por outro lado, quando auxiliado pelo instinto social (SO), parece mais preocupado com questões dogmáticas e lógicas: existe um aspecto marcadamente mais intelectual, possivelmente mais raivoso, e um tanto mais conformado à autoridade.

[#] SP7 — Racionalização (Atividade)

» ILE e LIE // S, SC, SM e SF // [713], [782], [783], [784], [793] e [794]

[...]

[#] SO7 — Planejamento (Intelecto)

[...]

SX7 — Gula (Emoção)

» IEE // S, SC, SM e SF // [792], [794] e [784]

O SX7 é o E7 de variante emocional, o que indica que o foco de seu ego ocorre, sobretudo, em sua Paixão — a Gula. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SX7 pode ter, em sua atitude sugestionável, tanto o auxílio do foco na Fixação (Planejamento) como do M. de Defesa (Racionalização).

O foco na Gula designa a sugestionabilidade característica deste subtipo. O SX7 é o mais emocional dos E7s. Aqui, a Gula opera com maior liberdade, planejamento e autoindulgência. O SX7 é um espírito livre, alguém, nas palavras de Naranjo, “acima deste mundo terreno”. É um personagem de caráter otimista, que busca por experiências fantásticas e pela realização de suas idealizações. Há um interesse reduzido em relação às coisas materiais devido ao alto teor de idealização e desejo. São sonhadores que “vivem nas nuvens”, que buscam algo mais emocionante do que a realidade concreta. O SX7 é um caráter que se move diretamente em direção aos seus desejos e suas ambições fantasiosas — por isso o apelido tão famoso de «charlatão». O vazio existencial deixa de ser assumido por um isolamento e passa a ser “negligenciado” por meio da Racionalização. O SX7 enxerga o mundo através de lentes cor-de-rosa, lentes cujas quais não é capaz de viver sem. “Se eu não fosse positiva, eu me mataria” — disse uma moça que Cláudio Naranjo conheceu. O E7 não pode parar de tirar proveito, se mover em prol da sociedade ou, neste caso, parar de degustar somente aquilo que o mundo possui de mais estimulante. Caso contrário, o vazio deve ser enfrentado — e com ele, o frio que vem ao cessar a correria.

Diante de qualquer problema, o SX7 parece enfrentar uma necessidade de fugir da realidade para um sonho mais bonito, para um lugar mais elevado, um Éden mais bem cuidado. Aqui, a Racionalização busca evitar o sentimento do vazio existencial e da falta de sentido nas coisas; “tem de haver alguma solução, um caminho, uma cura, uma paixão”, ele parece pensar. O Planejamento, então, é manifestado de modo autoindulgente em favor da Gula — isto é, o movimento emocional guloso, insaciável e pouco nutritivo; o E7 sempre saboreia, enche a boca, mas nunca engole realmente as coisas... Se brigarmos com um E7 para que eles melhorem em algum sentido, é muito provável que se ressintam, nos tirem de sua mente e partam para o próximo prato: um relacionamento mais aceptivo, um ambiente de maior liberdade, uma experiência mais fascinante. Mesmo quando isso não ocorre, ainda há uma divinização do prazer da vida por si só: temos razão sobre aquilo que dissemos, então o SX7 se fascina por essa crítica e molda um ideal existencial e positivo em torno dela. Essa idealização sugestionável da vida pode, por um lado, ser sustentada por um altruísmo, por um idealismo mais intelectual e sacrificial, por uma atitude Planejadora (SO); e, por outro, pode ser auxiliada por um sentido muito mais oportunista e “mafioso”, de modo que as ações emocionais gulosas se tornam mais Racionalizadas em vez de Planejadas, buscando por alianças para sustentá-la (SP).

Como um IEE (exclusivamente), o SX7 pensa bastante nas potencialidades das coisas e pessoas que conhece. Tudo possui um novidade latente e uma bela natureza a ser explorada. No entanto, embora o SX7 possa ser bastante “emocionado” na maioria das vezes, também se importa em manter os outros numa distância apropriada. Além disso, conta com uma necessidade de se diferenciar dos outros para saber o que o torna especial, o que pode usar para explorar as potencialidades deste mundo (– Ne/Fi). Neste mesmo sentido, devido ao seu Superego (– Se-Ti), o SX7 possui dificuldades no que diz respeito à assertividade, investindo então suas energias seguindo aquilo que lhe parece mais correto ou provável, raramente entrando em conflito ou colisão direta com os outros e com o mundo propriamente dito. E há, ainda, uma dificuldade em compreender as coisas de modo fundamental e bem principiado. Quando falamos com um IEE ou um EII, notamos uma falta de capacidade crítica geral, uma dificuldade em ser imparcial. As situações, portanto, são avaliadas apenas quando aparecem — o SX7 foge das possibilidades negativas. Ele age conforme aquilo que pode tirar do passado.

SP8 — Rebelião (Intelecto)

» SLE // C, CS, CF e CM // [853], [863], [864], [873] e [874]

O SP8 é o E8 de variante Intelectual, o que significa que o foco principal de seu ego se dá, sobretudo, na Fixação — a Rebelião. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SP8 pode ter, em sua atitude antissocial, tanto o auxílio do foco na própria Paixão (Luxúria) como no M. de Defesa (Negação).

O foco na Rebelião destaca seu comportamento oportunista e antissocial. No SP8 a oposição à autoridade é a mais forte de todas, de modo que não apenas pessoas nesta posição são contrariadas, mas também normas sociais e dogmas éticos ou religiosos. O SP8 sente uma necessidade de satisfação exacerbada, e a Negação da vulnerabilidade se dá na posição de um oportunismo que reprime os sentimentos e a abertura, restando somente uma compreensão lógica sobre a própria vontade, benefícios ou valores. Os relacionamentos do SP8 sempre têm um tom muito forte de dominância e, explícita ou implicitamente, são mafiosos — isto é, servem para alcançar um fim, para acumular força, para se valer de uma habilidade; e quando a pessoa não for mais útil, ela é abandonada. E, como visto nas correlações do cabeçalho, o SP8 é um tipo muito variado. Alguns podem ser mais enérgicos e outros mais retidos, uns mais charlatões, enquanto outros mais oportunistas, uns mais vingativos, e outros mais justiceiros. Mas o foco ainda é o mesmo: a Luxúria deve ser vivenciada por meio de uma força rebelde, sendo esta uma afirmação dos próprios desejos e um posicionamento antissocial, antiético e antiautoritário diante dos outros.

Diante de qualquer adversidade, o SP8 entra num estado de Rebelião. A necessidade emocional luxuriosa é justificada por um forte sentido antissocial e por uma resposta forte: um ataque vindo do mundo deve ser respondido com uma veemência tanto igual, ou mesmo superior. O SP8 acaba por ser bastante “simples”. Em suma, trata-se de um personagem dotado de um intenso desejo pelo prazer, pela autossatisfação, e o confronto costuma existir diante daqueles que inibem o sucesso de seu deleite e de seus objetivos (geralmente vingativos, se não defensivos em alguma medida). Mas, como disse, este é um personagem bastante diverso (ref. Tritipo). Um (SP) 87x será evidentemente mais oportunista, cínico e passional, enquanto um 83x tem um tom muito mais missionário e performático em sua atitude; o 85x é mais antissocial, egoísta e “retraído” em prazeres mais estáticos; um 86x se preocupa mais com um sentido de «família», protegendo aqueles que lhe pertencem e vivendo de seletas relações mais íntimas e particularmente intensas; e um 84x vai ser mais reflexivo sobre sua existência, mais reservado e, eu diria, duas vezes mais «tenaz».

A busca fundamental do SP8 por independência, intensidade e «autoafirmação» pode, por um lado, ser auxiliada por uma maior valorização da lealdade, da luta, da formação de alianças, por uma concentração na independência e na resistência contra a autoridade, bem como por uma orientação mais solidária e defensora (SO). Por outro lado, esta pode ser suplementada por uma busca mais pronunciada pela intensidade, por uma tonalidade mais possessiva e dominadora, por um foco na afirmação dos próprios desejos (SX).

[#] SO8 — Rebelião (Atividade)

[...]

SX8 — Luxúria (Emoção)

» SEE // S, C, SC e CS // [863], [864], [872], [873] e [874]

O SX8 é o E8 de variante emocional, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, em sua paixão — a Luxúria. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SX8 pode ter, em sua atitude intensa e poderosa, tanto o auxílio do foco na Fixação (Rebelião) como no M. de Defesa (Negação).

O foco na Luxúria destaca as características de intensidade e dominância. Não há um excesso mais pronunciado do que este no SX8: eles são extremamente passionais, tanto nas relações íntimas como nas cotidianas, estando em constante movimento para conquistar um sentimento de vivacidade e poder. O jogo principal do ego — a possessão — expressa a necessidade do SX8 de controlar os ambientes e suas pessoas por meio de sua força volitiva (Ego: Se/Fi +). O SX8 (Id: Si/Fe –) não consegue cessar o movimento, pois é assim que o ser é substituído: a ação narcotizante é a própria intensidade. O vazio existencial é encoberto por meio da atividade constante, e os relacionamentos são estabelecidos por meio da fascinação. Ao que me parece, a perda do controle também é um problema nas relações: o outro deve se adequar às vontades do SX8, e, se não o fizer, ele não se incomodará em dizer ou brigar pelo que deseja. A Rebeldia se dá numa atitude emocional — isto é, há uma luta por autonomia, independência, uma guerra em virtude do próprio deleite e dos próprios valores éticos; o SX8 é o caráter que vai se afirmar sobre tudo aquilo que entende como parte de si, incluindo seu corpo, seus desejos, e as pessoas que possui em seu «território».

Diante de qualquer adversidade, por menor que seja, a solução é uma (e apenas uma) para o SX8: manter-se longe da vulnerabilidade. E como isto se dá? Numa atitude Luxuriosa. Como tanto mencionado, o SX8 afirma-se sobre tudo e todos. É um personagem visceral, e não se incomoda em perder um braço, um olho ou uma perna se for para vencer uma luta — e, vale ressaltar, a «luta» pode, é claro, ser literal; mas também ocorre diante de um confronto de vontades, uma recusa a se dobrar. Se interpretarmos o E8 como o Preguiçoso-Medroso, podemos entender como, no fundo, as motivações de qualquer E8 são as mesmas de um E6 — embora o caminho não seja cerebral ou cardíaco. O E8 pode não ser um covarde, mas, inegavelmente, luta contra um sentimento de dúvida diante do mundo, constantemente negando traços de vulnerabilidade e fragilidade. Este caráter é um baluarte, o que pode ser notado, por exemplo, no oportunismo e na desconsideração do outro — o outro traz fraqueza, então há duas soluções: o sentimento deve ser rejeitado, ou então dominado. Esse comportamento intenso, passional, possessivo e dominante pode, por um lado, ser sustentado por um aspecto um tanto mais “social”, de modo que o indivíduo luta mais pela justiça e se enfoca na lealdade, tornando-se um «defensor dos oprimidos» e mais solidário (SO). Já por outro, este pode ser complementado por uma busca pela autossuficiência e pela autossatisfação, tornando-se um tanto mais egoísta, oportunista e “pragmático” (SP).

SP9 — Autoesquecimento (Intelecto)

» SLI // FM, MF, MC, F e FC // [953], [954], [963], [964] e [973]

O SP9 é o E9 de variante Intelectual, o que significa que o foco primário de seu ego se dá, sobretudo, na Fixação — o Autoesquecimento. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SP9 pode ter, em sua atitude preguiçosa e elefantesco, tanto o auxílio do foco na própria Paixão (Preguiça) como no M. de Defesa (Narcotização).

O foco no Autoesquecimento destaca o comportamento preguiçoso e embotado deste subtipo. No SP9, a busca é por segurança e tranquilidade. Algo fixado em minha concepção sobre este tipo é o termo «promissores de sobrevivência» (ver Julius Rock, de “Todo Mundo Odeia o Chris”), pois é nisso que o SP9 foca. Digo que este é o mais “elefantesco” porque este é aquele que aparece como mais preguiçoso no sentido literal da palavra. Sua necessidade é a de criar um ambiente estável e previsível, evitando conflitos e tensões não porque é assim que experimenta o ser, mas apenas porque não quer ser incomodado — poderíamos dizer. O SP9 engaja em atividades rotineiras e confortáveis para evitar o confronto e o desconforto, distanciando-se das emoções e necessidades. O mais importante é uma rotina estável e previsível. “Não balance o barco”, o lema do E9, neste caso, é sobre manter um baixo uso de energia. Todas as energias deste indivíduo são investidas em alguma espécie de trabalho ou confronto com um mundo externo, de modo que, quando descansa, geralmente próximo à família ou amigos, ele precisa encontrar um jeito de desativar sua consciência. Isso ocorre através da «fusão intelectual» — o indivíduo absorve informações e adapta suas opiniões de acordo com aquilo que é socialmente aceitável ou esperado, perdendo o contato com suas próprias necessidades e desejos.

Em “27 Personagens em Busca do Ser”, Naranjo disse sobre o SP9: “Os fatos da vida, todo o ordinário, têm a capacidade de obstruir sua consciência. Para ele, não existe um nível metafísico. De alguma forma, a questão foi apagada da vida de um nove de conservação. Não se pode falar sobre ser com o Sancho Pança. Apenas sua barriga existe. A substituição do peito da mãe pela mamadeira foi tão completa que não há uma lembrança do amor materno no vocabulário.” Quando Naranjo metaforiza a “barriga”, abre a interpretação do SP9 como aquele entre os Preguiçosos mais focado na sobrevivência. Em certo sentido, ele pode ser semelhante ao SP7. Mas o que acontece aqui é que as próprias necessidades e desejos internos tendem a ser ignorados, de modo que o SP9 passa a se focar em manter um estado de “paz e estabilidade” externa. Ele também tende a ser o E9 mais agressivo e mais cínico. Isso ocorre porque, se um tipo Intelectual precisa de alguma «convicção», a convicção do SP9 é essa paz externa. E, devido ao embotamento dos sentimentos e emoções, embora ele possa ser alguém doce, a raiva (emoção central nos tipos gástricos) toma palco para, retomando o exemplo anterior, “manter o barco estabilizado” (ver Michael Ehrmantraut, de “Breaking Bad”). Se alguém arruína o equilíbrio da vida, se ameaça aquilo a que o SP9 se apega, se vai contra o status quo, ele pode agir com “frieza” rumo à estabilidade desejada. Mas as próprias opiniões não se contorcem tanto assim para sair, por isso o SP9 frequentemente pode permanecer em silêncio ao ser atacado, pode abandonar uma discussão sem muita cerimônia, ou mesmo manifestar determinado sarcasmo ou “cinismo”.

Diante de qualquer adversidade, o SP9 entra num estado de Autoesquecimento. Esse sentido parece tão amplo quanto as próprias correlações do SP9 — tão vastas, por sinal. O autoesquecimento pode ser exercido por meio do sentido de “não balance o barco”, mas também pode levar a um autoesquecimento mais literal, de modo que o indivíduo se abre sobre sua raiva de modo até mesmo, talvez, inconsequente (94x). Mas há mais sentidos, é claro. Há SP9s que focam mais em promissores de sobrevivência, como a economia excessiva, ao ponto de chegar a ser muquirana; e também alguns preocupados com o estabelecimento de uma família, com a integração social (96x). Existem aqueles que se fundem a um trabalho, uma rotina, um isolamento (95x). Alguns SP9s podem até parecer um tanto mais com os oportunistas (SP7), pois a fuga emocional, a busca ativa pela manutenção do embotamento e do engrossamento da pele da consciência, se dá através de uma necessidade de consumo um tanto mais psicológica. Este, 973, costuma ser mais aventureiro, mais ativo, ou então mais tranquilo, mais positivo, e talvez mais “independente” em alguma medida — talvez até análoga à do E8. Um menos visto, no entanto, é o 93x. Seu foco, ao que me parece, “passa a ser uma imagem ativa de eficiência, autossuficiência e solidez” (SP3). Esse SP9 parece ser aquele mais ativo a serviço da sociedade. O autoesquecimento ocorre mediante uma necessidade vaidosa que somente pode ser saciada mediante a ação, o trabalho. Esse comportamento “pesado” do SP9, por assim dizer, pode, por um lado, ser complementado por uma orientação um tanto mais social, de participação e integração social, por uma atividade narcotizante (SO). Por outro, pode ser observada uma face mais simbiótica, que busca a segurança (i.e., o embotamento) através de uma fusão emocional mais pronunciada com os objetos e pessoas. Esse, então, aparece como mais íntimo e um tanto mais profundo, entendendo sua própria identidade a partir dessa fusão que realiza, seja — como mencionado — com o trabalho, com a sobrevivência, com a tranquilidade, etc.

SO9 — Narcotização (Atividade)

» SEI // FS e FM // [954], [962], [964], [972], (...)

O SO9 é o E9 de variante ativa, o que significa que o foco principal de seu ego se dá, sobretudo, no Mecanismo de Defesa — Narcotização. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SO9 pode ter, em sua atitude socialmente ativa, harmonizadora e calorosa, tanto o auxílio do foco na própria Paixão (Preguiça) como na Fixação (Autoesquecimento).

O foco na Narcotização destaca o comportamento socialmente ativo e comunitário do SO9. Naranjo descreveu essas pessoas como bondosas e participativas, dotadas de uma intensa necessidade de agir e de fazer parte de algo. A descrição de Naranjo sobre este tipo, no entanto, pode ser facilmente confundida com a variante sexual do tipo preguiçoso — talvez porque os sexuais costumem ter como instinto auxiliar o foco social. Ainda assim, Naranjo diz algo fundamental para o entendimento do E9 social: “Sua paixão é a de fazer o necessário para pagar o pedágio que lhe permita ser admitido no grupo.” Assim sendo, o E9 social é aquele que luta pelo direito de pertencer e que busca participar ativamente da vida. Como contratipo, notamos este como o menos preguiçoso dos eneatipos preguiçosos. Ele está em constante movimento, o que significa que seu ser não é buscado numa mão emocional de simbiose (SX9) ou num sentido pragmático, preservacionista e intelectual (SP9). O sentido da vida, para o SO9, está em fazer a diferença, e seus focos emocionais complementares variam de uma sensibilidade introjetiva e introspectiva a uma sensibilidade social com especial atenção aos prazeres.

Eles sentem que devem dar muito, mas, ao mesmo tempo, devem ser simpáticos e agradáveis. Seu lema é: «não demonstre a dor, não lance peso na mente do outro». Como alguém que sempre apoia e cuida dos outros dentro de seu grupo, muitas vezes o E9 social pode acabar negligenciando suas próprias necessidades em favor de manter a harmonia e o senso de pertencimento. Entretanto, embora também costume guardar suas dores (afinal, trata-se de um Eneatipo ativo), não se deve confundir com o SP4, que valoriza essas dores como produtos narcisistas. O SO9 pode negligenciar suas emoções, sofrendo em silêncio por vários motivos — seja porque não as entende, ou porque não quer causar problemas ao grupo, porque quer parecer firme, forte e confiável... entre outros motivos. Sua expressão é mais feliz do que triste — diz Naranjo —, mas isso não significa participação, e sim uma espécie de participação parcial: um substituto. Todos os E9s têm substitutos — afinal, é disso que se trata a preguiça. Aquilo que substitui a existência e a experiência do ser individual para SO9 é precisamente o nome dado a ele por Naranjo: participação, ou pertencimento. Os preguiçosos sociais-ativos, portanto, distanciam-se do próprio ser — visto que uma identidade própria pode causar conflitos e arruinar o conforto ou a estabilidade da vida — e, para compensar, encontram-no num papel social fortemente definido. Poderíamos dizer do SO9 “o filantropo”.

O lema da Preguiça, «não balance o barco», aqui, se refere a um status quo considerado não por um relacionamento ou necessidade pessoal, mas por uma valorização da "curadoria" sobre a sociedade. Desempenhando seu papel social autoindicado, o SO9 é anestesiado da dor da separação e da difícil dor de uma identidade própria. No entanto, ao contrário do SX9, ele se subordina menos a pessoas específicas e mais a uma visão que se tem da sociedade. Se algo deve ser dito de acordo com a ética social, assim o E9 social o fará. Se algo não tem um efeito social, no entanto, o SO9 pode dar preferência aos valores etiquetados dentro de si mesmo como uma consciência superegoica. Isso significa que uma pessoa deste tipo que tenha dificuldade em dizer «não» tem tal dificuldade porque lhe soa inadequado/insensível. Entretanto, se o conflito já existe, o SO9 não hesita em participar dele se acreditar que pode fazer a diferença. Se o SX9 está preocupado com a possibilidade de arruinar a fusão com um parceiro ao expressar sua identidade por oposição, o SO9 está preocupado em ser suficientemente pragmático e relevante em suas contraposições ou discordâncias, para que elas sirvam para causar uma mudança no estado geral do ambiente e, portanto, da vida do próprio indivíduo e das pessoas ao seu redor. (Em vista do Tritipo, o E9 social sempre tem algum tipo de preocupação intelectual, seja ela sobre o acúmulo de conhecimento, sobre o cultivo de certezas em relação à vida a fim de providenciar segurança, ou mesmo sobre a exploração de algum modo intuitiva sobre os prazeres da vida a fim de encontrar uma missão social não nas reservas ou defesas, mas nas esperanças e capacidade de aconselhar.)

O mecanismo de defesa da Narcotização surge no E9 social como uma necessidade, em alguma medida compulsiva, de se distrair e evitar confrontar suas próprias necessidades e emoções, emergindo-se em atividades externas que o mantenham ocupado e socialmente engajado. Os SO9 tendem a fugir do conflito interno, embora possam ser especialmente sensíveis nesse aspecto e em vários sentidos. Eles geralmente se envolvem em atividades sociais e trabalho incessante para evitar lidar com seus próprios sentimentos e problemas internos. Mas não é como se o SO9 fosse necessariamente embotado em seu aspecto emocional. Ocorre que as emoções enfrentadas por ele tendem a ser, em alguma medida, consideravelmente negativas. E eles não são capazes de entender as emoções de forma intuitiva (através do tempo e das possibilidades de sua expressão e gestão). Por isso, são especialmente reservados sobre esse aspecto. Eles precisam de um tempo pessoal para vivenciar suas próprias emoções e entendê-las sozinhos. Entretanto, na maioria das situações, o SO9 escolhe não expressar exatamente o que sente se aquilo partir unicamente de si. Devido a essa estrutura, os bondosos podem manter um nível superficial em muitas de suas relações, evitando discussões profundas que possam trazer à tona conflitos ou emoções especialmente desconfortáveis e difíceis de resolver. Ainda assim, diante de uma pessoa que seja aberta à expressão de emoções e necessidades do E9 em sua natureza, eles podem ser especialmente abertos e permitir-se mergulhar nos pensamentos que constantemente postergam a fim de manter as relações positivas, próximas e agradáveis.

A paixão pela preguiça espiritual é expressa, aqui, como uma resistência à introspecção e à mudança. As energias dessas pessoas são investidas para manter um status quo socialmente estabelecido. Deste modo, os E9 sociais evitam qualquer coisa que possa perturbar a sensação de paz e pertencimento. Eles desejam evitar conflitos e confronto, preferindo a conformidade e a passividade para manter a harmonia. Sua inércia emocional faz com que resistam a explorar suas próprias necessidades e desejos, optando por seguir a correnteza e adaptar-se ao que se espera socialmente. É relevante, também, destacar a oposição entre os E9 social e sexual nesse aspecto de passividade e conformidade. Esse comportamento diz respeito a uma consciência, respectivamente, social e sexual. Na medida em que o SX9 se preocupa em não estragar relações, o SO9 se preocupa, em alguma medida, com sua imagem, direitos e papel sociais. Na mesma situação, ambos agiriam de modo especialmente distinto. Dizer «não» tende a ser especialmente difícil para o E9 em si como um Harmonizador Caloroso (SEI), pois se trata de uma atitude essencialmente pragmática (Te) e, em algum nível, volitiva (Se). Ambos esses aspectos variam de contexto para contexto em cada um dos E9s. O SX9 terá medo de afirmar suas vontades e de ser direto sobre seus desejos porque deseja permanecer num equilíbrio em sua relação. Ele habitualmente não expressará suas opiniões se sentir que isso ofenderá ou machucará uma pessoa com quem se importe ou seja neutro. O SO9, por outro lado, não hesitará em declarar seus pensamentos pragmáticos e fortes sobre a vida e sobre si mesmo se assim for necessário para corrigir o andamento social. Se algum problema for especialmente recorrente, incômodo, prejudicial ou desmotivador, o SO9 dirá, pois este é o seu papel social: elevar o nível de satisfação e harmonia num grupo ou ambiente. (Vale ressaltar, no entanto, que ele geralmente fala apenas uma vez. Se a vontade ou objetividade não forem suficientes, ou se a pessoa se opuser, o SO9 tentará se defender disso encontrando prazer em outros lugares e, pouco a pouco, distanciando-se da fonte de problemas irresolvíveis.)

Entender os E9 sem colocá-los sob a lente do Homotipo pode ser complicado. Eles podem parecer especialmente superficiais em relação aos outros Eneatipos. Entretanto, quanto os entendemos como Sensoriais Introvertidos, Éticos no caso dos Sexual e Social, e Lógicos no caso dos Conservacionais, podemos observá-los mais a fundo. Ao passo que os SP9 são famosos por sua capacidade de consertar coisas, os SO9, assim como os SX9, são especialmente notados por sua capacidade de apreciação estética em sentidos amplos. Os SEIs podem ser amáveis pintores (Bob Ross), destacados fotógrafos e arquitetos (Thalita Neres), músicos de identidade singular (Billie Eilish), delicados modelistas (Barbie), entre várias outras figuras de grande qualidade estética e emocional. Os SO9 também se distinguem por seus Temperamentos, que, sempre de base Fleumática, variam entre a Melancolia e o Sangue. Quando Fleumáticas-Sanguíneas, essas pessoas podem soar especialmente doces e abertas ao mundo externo em seu calor habitual, tendendo mais à alegria explícita e a nutrição emocional. Quando Fleumáticos-Melancólicos, por outro lado, eles podem ser mais silenciosos, delicados, introspectivos, retirados, esforçados e privados. Cada combinação do SO9 é única, e aqui eu devo deixar uma nota sobre os Tritipos: devido à baixa quantidade de referências (atm., 41), não posso dizer com certeza se algumas combinações triádicas realmente existem, como é o caso dos [E3]. Portanto, serão considerados aqui os tipos [954], [962], [964] e [972].

Os [954] são pessoas que tendem à Melancolia. São habitualmente mais privadas e reservadas em suas percepções da realidade. Sua atividade é equilibrada com aspectos tanto emocionais como intelectuais. Sua intelectualidade é mais introvertida e valoriza o acúmulo de conhecimentos sobre a vida. Ele pode ser notavelmente menos expressivo sobre suas emoções e mais reservado em suas emoções e sentimentos. Os [964] são parecidos, mas diferem no tom de sua intelectualidade. São bastante mais preocupados com as normas sociais, e é a partir delas que eles consideram o que devem ou não ser, quais valores são bons ou ruins e, sobretudo, o conceito de justiça social. Estes podem, no entanto ser mais melindrosos ou vitimistas em comparação aos anteriores. Mas isso não ocorre com os [962], que apenas diferem dos [964] em suas emoções mais intelectuais. O [SO2] traz ao SO9 o elemento da sedução social. Esses indivíduos são propriamente os mais bondosos, assim como os [972]. O problema do [962] é sua tendência crítica, ansiosa e justiceira. Os [972], por outro lado, tendem mais a uma espécie de narcisismo e têm amplificado o seu foco nos prazeres da vida, que ganham um complemento intuitivo sobre o sensorial. Essas pessoas têm ideias próprias sobre como se deveria viver a vida e qual é o sentido individual dela. Sua participação tende a estar na luta ativa por um ideal que envolva o desfrute da vida. Raphael Salustiano, um educador que co­nheci outrora, por exemplo, luta ativamente contra o racismo com tudo o que pode. É alguém mais Sanguíneo e encantador, e se destaca por sua presença animadora. (O SEI Fleumático-Sanguíneo deve ser o tipo considerado como ESFP pelo MBTI.)

Para finalizar, resta observar a diferença entre os SO9 em vista de seus complementos instintuais. Considerando o SO9 como um preguiçoso ativo focado no pertencimento social por meio de ações suficientemente pragmáticas para incrementar o nível de satisfação e conforto espiritual, podemos vê-lo, por um lado, como coorientado por um sentido simbiótico. O E9 social com foco sexual complementar busca a sensação de ser, além da participação, através da fusão emocional com as pessoas. Os prazeres são ainda mais ressaltados neste tipo de SO9, visto que, como tipo ativo, são seus complementos que lhe conferem uma verdadeira identidade emocional ou intelectual. Digamos que um E9 dotado dos instintos social e sexual lutará pelos direitos sexuais (passionais), enquanto um dotado de instintos social e preservacionista lutará pelos direitos de sobrevivência das pessoas. No E9 SO/SP, a luta pelo pertencimento ganha um tom de sobrevivência, seja mediante a ternura, o aproveitamento de oportunidades ou o autoisolamento num castelo, e mesmo mediante o masoquismo tenaz ou a sedução social por infantilidade. E, claro, tudo isso acompanha um fator de fusão a confortos físicos mais estáticos e pragmáticos. Essas pessoas se preocupam um tanto mais com seu pragmatismo.

SX9 — Preguiça (Emoção)

» SEI // SF, SM, SF e FS // [962], [963], [964] e [972]

O SX9 é o E9 de variante emocional, o que significa que o foco de seu ego se dá, sobretudo, em sua paixão — a Preguiça. Compreendendo o empilhamento instintivo, temos que o SX9 pode ter, em sua atitude confluente, tanto o auxílio do foco na Fixação (Autoesquecimento) como no M. de Defesa (Narcotização).

O foco na Preguiça destaca suas características de simbiose, confluência e passividade. Entende-se pela Preguiça como Paixão uma característica em certa medida oposta às anteriores. Não se trata nem de uma tentativa de ser aceito pelo mundo e nem necessariamente de lidar com ele, mas de obter espaço — este é o foco de todos os personagens da tríade gástrica. O SX9, como todos os outros 8 personagens intestinais, não experimenta um sentimento ou desejo natural sobre o próprio ser. O ser, então, é vivido através da fusão com o outro, com atividades, e mesmo com confortos. Isso faz do SX9 um personagem extremamente passivo, alguém profundamente resistente a qualquer tipo de conflito interno ou externo. Ele é vítima de um desejo de manter a harmonia, e tem a personalidade castrada por um medo da perturbação emocional. Naranjo sempre referenciou os E9s como «elefantes»: “[...] Uma falta de fogo, uma fleumática falta de paixão. A estes termos, podemos adicionar “narcotização” (também introduzido por Horney) e “de pele grossa” (uma insensibilização que responde a um “sofrimento prolongado”). Uma expressão intelectual da perda de interioridade como defesa é a falta de sutileza e imaginação; uma consequência emocional, o amortecimento dos sentimentos, que pode ser aparente (em uma atitude excessivamente fleumática ou na falta de comunicação sobre si mesmo) ou oculta (sob uma atitude simpática ou jovial).” (C.N., p. 213)

Diante de qualquer adversidade, o SX9 manifesta uma Preguiça narcotizante que embota seus próprios sentimentos, é como se o «núcleo» do ser (o que gosto de chamar de “licor”) estivesse sob uma grossa camada de pele na garrafa do coração. Diferentemente do SP6 ou do SX3, a passividade não se dá numa natureza psicológica ou emocional, mas, essencialmente, existencial. Existe um forte fator de autonegligência presente no SX9 (Defesa), de modo que este busca por um “bem-estar” que, em verdade, é ilusório e narcotizante. É como uma pessoa com sede perdida no deserto, que recita um mantra: “A água virá”. Isso traz ao SX9 uma dinâmica de dependência e perda da identidade, pois as respostas não são procuradas ativamente na própria ação, mas esperadas passivamente diante do mundo.

Além disso, o SX9 é um personagem bastante variável, visto que conta com quatro alinhamentos Temperamentais e cinco Tritipos básicos (tipo baixo indefinido). Um (SX) 972 é o tipo de SX9 mais evidentemente preguiçoso, narcotizado e simbiótico, tendendo mais à fusão com confortos distrativos e com amores românticos. O 936, por outro lado, é o mais passivo entre eles, o mais conformado a um sentido vaidoso de “como o ser deveria se parecer”. Estes são os mais propriamente sexuais, os mais complacentes e mais submissos. Mas o 964 (mais raro) é mais distinto e complexo. Ele costuma ser um tanto mais rebelde em sua atitude narcotizante, podendo parecer mais “agressivo” devido ao [SX6] alto. O 964, ao que me parece, luta mais num “sentido oral-agressivo” ou “contrafóbico”. Parece ser o SX9 que reconhece um ser perdido, ou ainda, eu diria, um ser nunca conquistado. Os 92x são parecidos com os 936, mas diferem no fato de que o 936 busca ativamente o ser por meio de um senso vaidoso da autoimagem, enquanto o 92x reconhece um tanto menos a diferença dessa perda, podendo cair ainda mais em relacionamentos evidentemente tóxicos e ser enganado por más atitudes ditas como “amor”. Por fim, um 946 é aquele que busca o ser num sentido de reconhecimento da própria originalidade construída em cima de um sentimento de carência. Costumam ser mais discretos e mais ativos, além de mais românticos, estéticos e, levemente, mais “volitivos”.

O autoesquecimento do SX9 através da preguiça, da simbiose, da confluência e da supressão pode, por um lado, ser sustentado por uma busca por integração a um grupo ou comunidade, por um esforço para agradar e se adaptar, tornando-se mais ativo, cooperativo e atencioso numa esfera social (SO). Por outro lado, pode haver um maior foco na satisfação de necessidades básicas e conforto pessoal, uma busca por “substitutos” promissores de sobrevivência, como segurança, estabilidade, rotinas e hábitos (SP).

Bibliografia


Referência principal — “27 Personajes en Busca del Ser”, de Cláudio Naranjo

Referências complementares — “Carácter y Neurosis”, de Cláudio Naranjo. “Bestiário”, projeto autoral de tipagem de personagens e figuras famosas (800 tip. atm.) Determinadas dissertações argumentativas sobre personagens analisados no PDB, como no caso do SX6, cuja referência básica foi Maeve Wiley, de “Sex Education”. Determinadas descrições de Tipo Sociônico do site “World Socionics Society”, como no caso do SO5.

Ferramenta — Chat GPT (OpenAI) Modelo 4o (Alimentado com os trabalhos de Cláudio Naranjo. Confira os prompts no caminho [Homoscience – Acervo Tipológico → 6. Outros Documentos → Doc: Prompts Importantes].

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