O alcance do Homotipo

O que é o Homotipo?

O Homotipo é o efeito do alinhamento entre três tipologias fundamentais: Eneagrama, Sociônica e Temperamento Hipocrático Fisiológico. O Homotipo pode ser entendido como um indicador de personalidade mediante a análise da correlação entre essas três tipologias básicas. O Homotipo não é uma delimitação da personalidade, mas um ponto de partida para seu entendimento. Deste modo, não se restringe apenas a estas três tipologias, não restringe a utilização de outras.

Qual a real utilidade das tipologias?

Muito se discute sobre a consideração das tipologias como ciências ou pseudociências. No entanto, acho essa discussão um tanto paradoxal, visto que a perspectiva que temos hoje em nossa sociedade de uma «ciência» se dá na explicação concreta e integralmente comprovável de um evento ou fenômeno. Valendo-me da simbologia do Eneagrama, gostaria de destacar como o Homotipo não destaca uma delimitação naquilo que uma pessoa é, mas um ponto de partida para tudo aquilo que ela pode ser, em vista de tudo o que ela já foi.

Tal elaboração se alinha ao conceito da Lei do Um, do Eneagrama. Nas palavras de Beatrice Chestnut, em seu livro “O Eneagrama Completo”: “[...] O círculo que envolve o diagrama do Eneagrama, então, representa a unidade, a totalidade e a ordem natural do universo. A ideia de que ‘tudo é um’, ou que há uma unidade subjacente a todas as coisas, mesmo quando não podemos percebê-la [...]: ‘A unidade sempre preserva a identidade de tudo o que encontra’. A Lei do Um, representada pelo círculo, era uma metáfora para o processo de criação cósmica, começando de um centro sem dimensão (o ponto, ou fonte) e expandindo-se igualmente em todas as direções.”

E ela conclui: “Além de simbolizar a unidade e a natureza cíclica do processo, a ideia do um, expressa através do círculo, também comunica algo sobre o fechamento — os limites em torno de um processo ou reino específico. O círculo do Eneagrama, então, pode ser visto como encerrando o processo de desenvolvimento de um ser humano individual. O que está dentro do círculo denota a natureza finita da Personalidade, e tudo o que está fora do círculo é ‘o infinito’ que está além da compreensão da Personalidade condicionada.”

Nesse sentido, podemos entender o uso das tipologias como uma espécie de “regressão linear” da personalidade, ou da essência humana. Dessa forma, delimitam-se pontos-chave ou essenciais do comportamento, que não o definem, mas metrificam. Lendo “Caráter e Neuroses”, podemos observar como Naranjo confirma isso ao dizer, sobre o E5, que “É importante reconhecer a síndrome catatônica na esquizofrenia como a expressão mais extrema desta patologia”. Assim, entendemos que existem diferentes expressões das mesmas neuroses, temperamentos e sociotipos — sendo este o que chamo de Homotipo.

E quanto à origem da personalidade?

Muitas áreas da ciência se distanciam da tentativa de explicar a origem de fenômenos, como a linguística em relação ao surgimento da linguagem, ou áreas da ciência astronômica quanto ao surgimento do universo. No entanto, a meu ver, podemos entender as tipologias, e portanto a personalidade, dentro do fluxo triádico proposto pelo Eneagrama. Deste modo, entendendo os pontos III e VI como interdependentes e opostos, respectivos aos campos emocional e cognitivo da psique: Eneagrama vs. Sociônica. No ponto IX, por sua vez, temos um ponto neutralizante, distinto da emoção e da cognição, respectivo mais à vitalidade do comportamento humano e, em contraste com o distanciamento ou anseio, uma estratégia de diminuição e redirecionamento da consciência: o Temperamento Hipocrático. (Como não estudei Psicosofia, não posso dizer com propriedade onde esta se localizaria. No entanto, conversando com um amigo, ele disse que a posicionaria no centro de tudo isso, visto que engloba todos os três aspectos em conjunto. Outras tipologias, como Big Five, eu acredito, poderiam ser alinhadas no meio do caminho — nesse caos VI-IX.)

Assim sendo, o que observo é uma ordem decrescente no que poderíamos entender como o surgimento da personalidade: IX → VI → III. Não observo como fatores externos poderiam contribuir para a construção do temperamento de um indivíduo. Portanto, aqui se observa o temperamento como a primeira das tipologias no fluxo que leva à consolidação de nossa personalidade. É ousado, mas na mesma medida muito pessoal: uma pessoa nasce com dado temperamento. Por isso algumas pessoas são naturalmente tímidas, e outra naturalmente alegres. É uma tendência da regulação do indivíduo, que parcialmente independe da fenomenologia. E dessa regulação organísmica, desenvolvem-se os padrões psicológicos aos quais o indivíduo já estava pré-disposto — isto é, os tipos sociônicos aos quais dado temperamento se alinhava. Assim, o indivíduo desenvolve seu papel social e seu sentido cognitivo de si próprio mediante o direcionamento de uma energia com a qual já nasceu. Em seguida, por efeito da consolidação cognitiva, se dá uma cristalização emocional que, por sua vez, alimenta a regulação organísmica, que baseia o papel social, e assim sucessivamente.

E em que implica essa concepção? Objetivamente, podemos observar uma ordem de prioridade na consolidação da personalidade. Em outras palavras: entendemos quais tipologias podem se analisadas numa idade mais prematura, e quais exigem maior maturidade do indivíduo. O Eneagrama é a última das bases, enquanto o Temperamento é a primeira. Algumas abordagens trazem o Temperamento para o comportamento infantil, como em “Os 4 Temperamentos na Educação dos Filhos”, ou espiritual, como em “O Temperamento Que Deus Lhe Deu”. Isso nos leva à percepção do comportamento como, primordialmente, base organísmica. E, somente por efeito, bem como por consequência, desenvolve-se o comportamento de base psicológica: o modo como um indivíduo gerencia seu fluxo de consciência e sua conexão com o mundo concreto. Por fim, estabelece-se a neurose, o comportamento como patologia: o indivíduo adota vícios emocionais, fixações cognitivas e mecanismos de defesa que sustentam o ciclo de sua personalidade. Nesse ciclo, reside aquilo que chamamos de existência. E mesmo diante da transcendência, permanecemos transitando entre diferentes comportamentos simultaneamente prejudiciais e vantajosos para nós mesmos. Existir é superar a si mesmo, constantemente.

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