Elementos do IM

Lembremos que o metabolismo informacional consiste na troca de informações com o ambiente e na capacidade do organismo de receber sinais do ambiente e reagir a eles. Para essa concepção, normalmente utilizaremos o termo reflexão. Deste modo, cada elemento do metabolismo informacional representa uma reflexão sobre a realidade. A função em que este se encontra, por sua vez, demonstra o grau em que o indivíduo é capaz de refletir sobre dado aspecto, o quanto é consciente ou ativo sobre isso. O metabolismo informacional é o conjunto dos oito elementos de reflexão informacional e sua regrada organização funcional. (Esta imagem representa bem o que digo.)

No total, existem oito elementos, cada um dos quais se constrói mediante dicotomias estruturais. Toda pessoa possui todos os oito IMEs, mas em funções diferentes. No entanto, não se deve entender as dicotomias como focos absolutos. Um tipo [A] valoriza mais [A] do que [B]. Entretanto, este tipo ainda tem [B], que se segue em sequência a [A]. Portanto, em um tipo [A], as compreensões/percepções de [A] levam a [B], sendo que o oposto será verdadeiro para um tipo [B]. A exemplo, toda reflexão extrotímica leva a uma reflexão introtímica sobre a realidade, que, em si, será levemente mais limitada, seja na capacidade de enxergar o curso dos eventos, na valorização de certo aspecto da realidade ou na incapacidade de receber conhecimento dos outros.

6.1. Dicotomias

A primeira das dicotomias a ser entendida é extrotimia vs. introtimia. Os elementos extrotímicos estão focados nos corpos, nas qualidades objetivas dos objetos e no movimento sobre o mundo. Os elementos introtímicos estão focados nos campos, nas rela­ções entre os objetos e no fortalecimento das mesmas. Augusta preferiu chamar de extrotimia/introtimia em vista de como os termos extroversão/introversão tornaram-se banais como uma métrica de sociabilidade. Em suma, extrotimia e introtimia são di­re­cionamentos dos elementos informacionais: o primeiro é voltado para fora, e o segundo é voltado para dentro. Mas, mais do que isso, um está focado em corpos, e o outro em campos. Os elementos {Te, Fe, Se, Ne} são elementos de corpo (extrotímicos), enquanto {Ti, Fi, Si, Ni} são elementos de campo (introtímicos).

A segunda das dicotomias é racional vs. irracional, à qual Jung chamou de percepção vs. julgamento. (Augusta associou a nomenclatura respectiva de esquizotimia vs. ciclotimia, em referência aos conceitos de Ernst Kretschmer em seu livro “Física e Caráter”. Entretanto, válido apenas para menção, estes termos não serão utilizados aqui.) Nesta dicotomia, dividem-se dois grupos: o primeiro, dos racionais: lógica vs. ética; o segundo, dos irracionais: sensação vs. intuição. (Como mencionado, Jung chamou de pensamento a lógica, e de sentimento a ética.)

Os elementos irracionais são perceptivos, o que significa que suas emoções levam a ações, sendo mais reativos e impulsivos. Os irracionais recebem as informações diretas da realidade e somente depois a julgam. Os elementos racionais, por outro lado, são julgadores. Eles são mais reflexivos e proativos, guiando suas ações pela razão e pelo planejamento. Eles não percebem a realidade diretamente, mas primariamente a organizam. Os irracionais são mais adaptados à situação presente e flexíveis em suas ações, destacando-se por uma maior emocionalidade em seu comportamento. Os racionais, por outro lado, são mais “emocionalmente” distantes, focando numa avaliação sobre o passado e o futuro para adquirir uma estabilidade, a qual sempre parece ter um foco mais social que individual. Os elementos {Te, Fe, Ti, Fi} são racionais (julgadores), ao passo que {Se, Ne, Si, Ni} são irracionais (perceptivos).

A terceira das dicotomias aqui apresentadas será estática vs. dinâmica. Os elementos do IM se organizam em dois anéis de mesmo nome. Os tipos sociônicos sempre são formados pelos mesmos anéis em ordens diferentes. Num tipo, todos os elementos de um anel são estáticos ou dinâmicos, sendo que o anel oposto complementará isso — processo ao qual chamaremos de reflexão. No tipo LSI, por exemplo, todos os elementos de seu anel ativo são estáticos, ao passo que todos os elementos de seu anel passivo são dinâmicos. (Costumo dizer, portanto, que para a Ti ativa do LSI há, consequentemente, um reflexo da Te passiva. No julgamento das leis do LSI, portanto, há um pragmatismo passivo. No julgamento ativo do ESI sobre as relações, há um elemento implícito da oportunidade emocional.

Os elementos estáticos {Se, Ne, Ti, Fi} estão focados na forma, no conteúdo interno do objeto, em suas necessidades e desejos. Seu processo de pensamento interrompe consciente o movimento a fim de analisar aspectos estáticos em maior detalhe. Eles observam o mundo externo para compreender as necessidades, capacidades e motivações das pessoas. Para mobilizar um elemento estático consciente, é necessária uma comu­nicação direta e clara. Os estáticos definem objetivos claros, mas têm dificuldades em encontrar os métodos corretos para alcançá-los. Ademais, sua ação acaba por ser mais dinâmica em vista de seu anel vital dinâmico. Eles se adaptam dinamicamente a um mundo externo percebido como estático.

Os elementos dinâmicos {Te, Fe, Si, Ni} são mais focados nos processos, nas mudanças, em situações e contextos. Seu pensamento é ativado mediante a visualização dos objetos em movimento. Eles aprendem ao observar o mundo externo a fim de entender as dinâmicas sociais e as relações de causa e efeito. Eles mobilizam os elementos estáticos, preferindo dar instruções e direcionar as ações dos outros. Eles facilmente encontram métodos de realização, mas podem ter dificuldades em definir objetivos. Em vista de seu anel vital estático, eles esperam por uma justificativa ou necessidade para agir. Em suma, enquanto os elementos estáticos são mais voltados ao “ser” e à essência das coisas, sendo analíticos e buscando a estabilidade, os dinâmicos são mais voltados ao “fazer”, ao processo e à mudança, sendo mais proativos e ativos. Se um estático busca adaptar-se ao mundo, um dinâmico deseja influenciá-lo.

A quarta das dicotomias aqui apresentadas será interno vs. externo, também conhecida como implícito vs. explícito. Os elementos internos {Fe, Ne, Fi, Ni} cobrem informações sobre características e suas interações intangíveis ou implícitas do objeto, muitas vezes estando “escondidas” dentro deles. Os elementos externos {Te, Se, Ti, Si}, por sua vez, cobrem informações sobre as características e interações que o objeto possui que são tangíveis, explícitas e frequentemente transmitidas externamente. Assim, enquanto a realização de um elemento interno leva à realização de um elemento externo, o oposto é verdadeiro para um elemento externo.

Tomemos como exemplo os tipos ESE e EIE. No tipo ESE (Fe » Si), busca-se a liberação da excitação interna do objeto (emoção) a fim de criar um ambiente externo agradável e positivo. No EIE (Fe » Ni), por outro lado, a compreensão sobre os estados emocionais e motivações dos objetos ao seu redor leva não a uma mudança interna, mas externa: busca-se alterar a realidade ao longo do tempo, estabilizando-a apenas como efeito do gerenciamento emocional. Um exemplo oposto seria seu dual, o LSI (Ti » Se), que está totalmente focado em julgamentos e movimentos explícitos sobre o ambiente. O julgamento da lógica do ambiente e de suas características objetivas leva a uma necessidade de estabilizar as estruturas mediante a força.

6.2. Aspectos Informacionais

Dada a apresentação dessas quatro dicotomias, acredito que podemos partir para uma compreensão mais profunda sobre os elementos do IM. Sem a compreensão das dicotomias, tudo na Sociônica parecerá tremendamente abstrato, como por exemplo o funcionamento da Intuição Introtímica (Ni), representante do Tempo.

Cada um dos oito elementos é representante refletor de um conceito da realidade. A Escola da Sociônica Clássica (SCS) não costuma utilizar esses nomes e não os vi atribuídos em nenhum dos artigos que traduzi. Entretanto, noutras fontes, cada um dos elementos recebe um nome de destaque que considero válidos. Abaixo, elaboro sobre a concepção subjacente a cada um dos nomes atribuídos aos IMEs.

  • Ni (Tempo): A percepção direta sobre a relação dinâmica dos aspectos implícitos leva à intuição das relações temporais.

  • Ne (Ideias): A percepção direta sobre as estruturas estáticas e implícitas leva à intuição das potencialidades.

  • Si (Sensação): A percepção direta sobre as relações dinâmicas do mundo externo leva à experiência das sensações como efeito das correlações do espaço.

  • Se (Força): A percepção direta sobre a estrutura estática do mundo externo leva a um sentido de expansão do próprio espaço, de domínio e de sensorialidade volitiva.

  • Fi (Relações): O julgamento das relações estáticas entre os objetos leva a uma compreensão de sua qualidade/estrutura interna.

  • Fe (Emoções): O julgamento das estruturas dinâmicas dos objetos levam à mobilização de sua energia e à liberação da excitação emocional.

  • Ti (Leis): O julgamento das relações estáticas entre os objetos leva a uma compreensão de sua qualidade/estrutura externa e seu potencial material.

  • Te (Pragmatismo): O julgamento das estruturas dinâmicas dos objetos levam ao gerenciamento do estado e do movimento do mundo externo.


Note-se que, na Sociônica, a densa compreensão das dicotomias leva a uma estrutura sólida do sistema. No MBTI, frequentemente confundiam-se os conceitos, pois eram demasiado abstratos e descritivos. A teoria sociônica se sobressai até mesmo perante a tipologia de Jung ao atingir a capacidade distintiva e diagnóstica. É capaz disso devido à solidez das estruturas de seu sistema, que opera, fundamentalmente, a partir de dicotomias. Para esta breve elaboração introdutórias sobre os IMEs, por exemplo, segui uma ordem de racionalidade, direcionamento, dinâmica e foco. Assim sendo, o elemento Te, por exemplo, é racional, extrotímico, dinâmico e externo. Ele deve, portanto, ser baseado no julgamento de estruturas dinâmicas a fim de um efeito externo.

Além do que elaboro acima, Augusta menciona, em seu artigo “Sócion”, o seguinte:

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