Cinético vs. Potencial

Os blocos cinéticos são expansivos em direção ao mundo externo. Durante a expansão do Ego, a sociedade é submetida ao intelecto do indivíduo. Durante a expansão do Id, por outro lado, o indivíduo é submetido ao intelecto da sociedade. Com seu Ego, o indivíduo contribui para adaptar a sociedade à realidade objetiva. Ele cria novos padrões de adaptação aos objetos e fenômenos, uma adaptação que se torna cada vez mais racional. Por isso é chamado de cinético: o indivíduo mobiliza a sociedade em torno dos aspectos que aqui se incluem. O Id, por outro lado, caracteriza a própria adaptação do indivíduo à realidade. É um bloco cinético passivo.

No Ego, o indivíduo interfere na sociedade e reivindica seus direitos. Ele assume a lide­rança sobre seus aspectos, é responsável e criativo. No Id, a sociedade interfere nos assuntos e atividades do indivíduo, ditando suas próprias regras de comportamento. Assim, o Id é mais observador, demonstrativo e adaptado. Se no Ego o indivíduo proclama os seus direitos diante da sociedade, no Id o mesmo reconhece os direitos que a sociedade tem sobre ele, sentindo-se mal se a mesma não os utilizar com frequência. Aqui, o indivíduo se doa à energia da sociedade, e espera ser bem utilizado e valorizado.

Em seu Ego, um indivíduo avalia a sociedade e o que acontece nela. Ele realiza correções categóricas e instila novas normas relacionais que sejam mais eficientes e eficazes. Em seu Id, estabelece-se o quanto a sociedade precisa do indivíduo e de seu serviço. Ele necessita saber qual é o seu «valor de uso», se ele e sua atividade são incluídos no movimento social e em que medida. Enquanto em seu Ego um indivíduo cria novos valores e se gaba de suas habilidades, no Id o mesmo serve de forma dócil e vigilante aos valores já aceitos pela sociedade, esperando elogios em vez de se exaltar.

O Ego e o Id são reflexos complementares um do outro. Se no tipo ESE o Ego é Fe/Si, por exemplo, seu Id será Fi/Se. Note como apenas uma letra se altera: Ego ESE, Id ESI. No mesmo sentido, o Id também é complementar em suas cargas. Essa reflexão indutiva entre Ego e Id nos leva à percepção do Ego como complementado pelo Id. O movimento consciente do indivíduo sempre leva em conta sua adaptação e estado vital. Chamamos de fases os elementos comuns. No ESE, novamente, a fase ética (Fe/Fi) e a fase sensorial (Si/Se) são complementares. Em sua expansão emocional positiva, o ESE deseja avaliar quais relações são atrativas ou repulsivas, e quem se deve manter por perto ou não. Em sua produção criativa de sensações positivas originadas da positividade emocional, o ESE também exerce, implícita/passivamente, sua força e sua vontade ética. (Vale destacar, ainda, que as funções do Modelo A também são chamadas de meias-fases, como comumente aparecem nos artigos de Augusta. Chamo estes elementos refletidos de fases pois, complementando-se, tornam-se fases completas. Não me lembro de ter visto uma notação igual em qualquer outro projeto ou escola sociônica, mas acredito ser adequado nomear assim.)


Os blocos potenciais são canais de informação sobre dois objetos que, da perspectiva do processo do IM, são iguais: o mundo externo e o próprio indivíduo. No Superego, o indivíduo tem uma concepção sobre si próprio através do prisma do que se sabe sobre o mundo. No Superid, por outro lado, o indivíduo possui uma concepção da sociedade com base naquilo que sabe sobre si mesmo, um saber que, por sua vez, vem da própria sociedade, do que os outros informam a ele, ou seja, o conscientizam.

Em seu Superid, o indivíduo molda sua visão da sociedade com base em experiências pessoais e normas do que deveria ser feito. Ele não se adapta ao mundo, mas tende a moldá-lo de acordo com suas próprias percepções e desejos. Essa adaptação não é consciente ou intencional, mas sim um processo inconsciente, com o qual o indivíduo se preocupa e ao qual subconscientemente se orienta para compensar seu Ego, por assim dizer. No entanto, embora em seu Superid o indivíduo adapte o mundo à sua imagem, seus parâmetros são construídos a partir das informações que recebe da própria sociedade. No fim, o que o indivíduo considera importante, valioso ou desejável como aspectos de seu Superid é influenciado pelas normas, valores e expectativas sociais que o mesmo internalizou.

A quantidade de informação disponível ao Superego é condicionada pelas oportunidades sociais do indivíduo e especialmente por sua mobilidade. (Talvez por isso pessoas de classe social mais alta tendam a ser especialmente arrogantes: porque, com mais informações em seu Superego, este se torna exponencialmente mais duro.) Em seu Superego, o indivíduo se adapta ao mundo externo, criando uma concepção de si mesmo com base em seu reflexo social e agindo de acordo com esse reflexo. Durante a realização do Superid, por outro lado, o indivíduo é apreensivo ao colocar seus próprios interesses em oposição aos dos outros. Por isso, há uma inclinação bastante pronunciada ao autossacrifício e uma necessidade de regulação externa. Algo semelhante, mas contrário, é observado no Superego.

Em seu Superego, o indivíduo teme «exagerar», e por isso tenta ser discreto e não assumir destaque, para evitar receber observações corretivas dos outros. Se isso falhar, o indivíduo é atormentado por sua consciência, por uma autoculpa e vergonha. Em seu Superid, por outro lado, as pessoas tentam fazer com que sua atividade de autossacrifício seja notada e não aceita. O indivíduo necessita ser notado, para assim «merecer» observações corretivas. Caso contrário, será atormentado pela anticonsciência: um sentimento de culpa lancinante, mas a culpa dos outros em vez da própria, um sentimento de que aqueles ao seu redor são culpados perante você.

Os blocos Superego e Superid são chamados de potenciais devido ao modo como representam capacidades latentes do indivíduo. Sua informação não é realizada, mas atua como um «banco de dados» sobre o mundo externo e sobre o próprio indivíduo. A informação raramente é posta em uso, e costuma ser utilizada pela lente dos blocos cinéticos. Ainda assim, no entanto, as pessoas desejam ser bem-vistas em seus blocos potenciais, seja porque elas estão nos conformes do que se espera e, portanto, devem ser respeitadas em suas decisões e pensamentos, ou porque necessitam de ajuda para tornar o mundo externo suficientemente agradável às suas necessidades e desejos.

Algo que se pode pensar é como, sobre nossa mente, somos orgulhosos. Naturalmente, não gostamos de ter nossos pensamentos corrigidos. Por outro lado, como seres sociais, tornamo-nos em alguma medida /super/egocêntricos em nossa atitude na medida em que necessitamos da ajuda dos outros. (Nós merecemos ajuda. Afinal, sendo tão bons em X, é natural que não sejamos tanto assim em Y. Mas a sociedade é, ou pelo menos deveria ser — foi o que me disseram —, e por isso, como sou parte dela e contribuinte com meu Ego, ela deve me ajudar! — Assim pensa o Superid em sua birra.) Naturalmente, apreciamos a ajuda recebida sobre tarefas que nos são especialmente difíceis, que «não são da nossa área».

No Superid estão os elementos opostos aos do Ego, enquanto no Superego estão os elementos opostos aos do Id. O Superego serve como complemento ao Ego na busca pela realização do Id, na medida em que o Superid serve como complemento ao Id na busca pela realização do Ego. Por isso, o Superego e o Id têm em comum serem discretos (blocos não verbais), enquanto o Ego e o Superid têm em comum o egocentrismo, a autopronúncia (blocos verbais).

No tipo sociônico SLE, por exemplo, o efeito da assimetria faz com que, de um lado, o indivíduo seja proficiente no estabelecimento e gerenciamento de forças objetivas no mundo (Se/Ti), enquanto, de outro, há uma extrema dificuldade no estabelecimento de objetivos de longo prazo e na liberação emocional positiva (Ni/Fe). Ainda assim, mesmo com essa dificuldade, o indivíduo está subconsciente­mente orientado a estes aspectos. Todos os planos que o SLE tem buscam, implicitamente, preservar as informações sobre a sua força e do ambiente para necessidades futuras (Ni), bem como tem por objetivo em todos os seus movimentos a própria satisfação emocional (Fe). Se o SLE travar uma guerra, ele pensará em quanto tempo levará até atingir seu objetivo, e agarrará este ideal persistentemente. Por sua vez, a realização da força faz o SLE ser capaz de ver futuro em sua vida, enquanto a realização da lógica subjetiva o faz sentir emocionalmente realizado. Isso é o que chamamos de indução entre os anéis.

O Superid também se caracteriza por ser um tanto rude. Neste bloco, a pessoa sugere aos outros aquilo que pensa ou sente sobre si e sobre o mundo, «fala pelos cotovelos», bem como deseja de orientações que complementem suas necessidades. Apenas os tipos duals e idênticos são capazes de perceber essas falas de cotovelo do outro. O dual do SLE, o IEI, ajudará o SLE a desenvolver uma melhor visão do futuro e dos resultados de suas ações. Ele mobiliza o SLE em sua capacidade de percepção, apresentando-o diferentes possibilidades para tudo. O IEI concede ao SLE um maior repertório e reflexão emocional, fazendo-o desenvolver habilidades diplomáticas que podem ser consideradas além da força. O IEI leva ideias emocionais para o SLE, que as coordena e rearranja num caminho mais pragmático, objetivo e lógico. Quando o SLE reclamar de como as pessoas não fazem sentido para ele e quiser desafiar o mundo, o IEI lembrará ele dos efeitos disso e auxiliará na regulação emocional.

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