Teoria

Todas as informações que se seguem na seção de Temperamento foram retiradas de A Fisiologia dos Temperamentos Hipocráticos (Homoscience). Acesso em Ensaios Tipológicos.

No que diz respeito a um organismo, a fisiologia caracteriza as interações e a coordenação entre diferentes órgãos e sistemas dentro de um mesmo corpo. Essa fisiologia interorgânica desempenha um papel crucial na manutenção da homeostase do indivíduo, na realização de funções corporais essenciais e na possibilidade do bem-estar geral. A fisiologia, portanto, implica uma comunicação hormonal por parte do organismo, bem como a comunicação neural de seu sistema nervoso, a integração ao fluxo sanguíneo por meio da constante troca de substâncias, a coordenação interorganísmica, os mecanismos de respostas e a capacidade de defesa imunológica.

Nesse sentido, podemos dizer da Fisiologia Temperamental a descrição do processo através do qual um organismo estabelece e controla tais relações entre si e o ambiente físico e social a fim de atingir um estado de homeostase, definida como a habilidade de manter o mundo interno em um equilíbrio quase constante, independentemente das alterações que ocorram no ambiente externo. Um Temperamento, portanto, consiste no modo como um indivíduo, entendido como organismo, se manifesta, interage e equilibra no mundo. Podemos dizer, portanto, que todos os componentes da estrutura de um Temperamento são inabaláveis — um Sanguíneo ou Fleumático “escolherá” ser positivo, independentemente da situação; um Colérico ou Melancólico, igualmente, será sempre um pessimista, pois, assim como os outros dois tipos, esse componente destaca uma compreensão do indivíduo sobre o equilíbrio geral do seu organismo. Ademais, deve-se dizer Fisiologia pois, essencialmente, todos esses estados relacionam-se entre si, de modo a produzir aquilo que chamaremos de «dobras», «mesclas», variantes ou combinações temperamentais.

Na abordagem do Temperamento Fisiológico, compreenderemos o comportamento organísmico, fundamentalmente, a partir de três dicotomias, as quais concedem a esta abordagem também o nome de RPA. Aqui não se nega a existência de diversas outras formas de dicotomizar o comportamento, no entanto, eis a mais fundamental entre elas: Ritmo (Lento-Acelerado), Percepção (Pessimista-Otimista) e Atitude (Idealista-Realista). Partindo de um processo de homogeneização e aprofundamento de diversas outras abordagens do Temperamento Hipocrático, entendemos como cada um dos quatro tipos fundamentais do comportamento organísmico humano surge, essencialmente, a partir do alinhamento desses três aspectos.

Deste modo, é o Sanguíneo um Acelerado-Otimista-Idealista (AOI), o Colérico um Acelerado-Pessimista-Realista (APR), o Melancólico um Lento-Pessimista-Idealista (LPI) e o Fleumático um Lento-Otimista-Realista (LOR). Posteriormente, são abordadas as dobras como um balanceamento entre dois Temperamentos, ainda que profundamente diferentes. Por exemplo, um Fleumático-Colérico, que tem realçado o seu Realismo (traço comum entre ambos os Temperamentos) e diminuído o seu Otimismo e sua Lentidão (traços distintos), de modo que este está mais disposto a sacrificar a cooperação pacífica habitual dos Fleumáticos em virtude de uma assertividade ousada, mais característica dos Coléricos.

Deve-se compreender, ainda, que os Temperamentos não são necessariamente inferiores às outras tipologias abordadas pelo Homoscience. Na verdade, os Temperamentos são a base de todo o comportamento humano. Observando o alinhamento das tipologias ao longo do triângulo interno do Eneagrama, temos o Eneagrama como quina direita, a Sociônica como quina esquerda e os Temperamentos como a parte superior e neutra em relação às outras duas. Nessa relação, observamos como o Temperamento (o comportamento do indivíduo em relação à sua energia, corpo e papel social) embasa a Sociônica (o comportamento do indivíduo como parte do sócion, como organismo dotado de consciência, i.e., percepção da realidade e capacidade de movimento), que por sua vez origina o Eneagrama (o comportamento do ser com base em como este foi destituído de sua capacidade espiritual original e, portanto, em como agora existe mediante estratégias de defesa emocional, psicológica e social preferidas).

Nesse sentido, os Temperamentos vão além de alegria, raiva, tristeza e tranquilidade, constituindo, a um nível mais profundo e complexo, quatro formas básicas de comportamento, cada uma baseada na relação do indivíduo com sua energia, seu corpo e seu ambiente social/físico. Os Temperamentos se baseiam em quatro «fluidos» ou «essências», que por sua vez dão origem a doze «mesclas» e, assim, somam dezesseis tipos de personalidade. As quatro essências são o Sangue, a Cólera, a Melancolia e a Fleuma, cada uma sendo uma compreensão das três dicotomias essenciais de ritmo (rel. energia), percepção (rel. abertura) e atitude (rel. papel social). Em síntese: Sangue representa ternura; Cólera representa combustão; Melancolia representa absorção; e Fleuma representa fluxo.

Quando duas essências temperamentais se unem, formando uma mescla, são atenuados os traços que são distintos entre as duas bases, e eleva-se aquele comum às duas. A exemplo de um contratipo (i.e., uma mescla composta por dois tipos opostos em ritmo e percepção), o Sanguíneo-Melancólico tem em si tanto a regulação do humor mediante a expansão e a ternura quanto, em maior ou menor medida, mediante a absorção do humor e da informação. E por isso ele é entendido como contratipo, porque, embora a base de seu comportamento seja a mesma, em totalidade ele é especialmente distinto dos outros Sanguíneos. Tal qual são o Colérico-Fleumático, o Fleumático-Colérico e o Melancólico-Sanguíneo.

Como parte do Proj. Homoscience, esta abordagem dos Temperamentos Hipocráticos conta com descrições que podem não ser completamente identificáveis. Isto se deve ao fato de ser uma abordagem correlacionista, que se enfoca na relação entre as três tipologias mencionadas anteriormente: Eneagrama (3), Sociônica (6) e, por fim, Temperamento (9). As descrições, portanto, são elaboradas com uma preocupação estrutural, distintiva e, claro, descritiva — são basicamente diagnósticas. Portanto, se o leitor não se identificar completamente com um Temperamento, está tudo bem. Algumas das características descritas podem corresponder a personagens que tomei por base para entender o Temperamento, como por exemplo ao Fleumático-Colérico, em que destaquei tanto características do SP9 como do SX5. Mantenha o olho atento não aos traços, mas a toda a estrutura. (E claro, por favor, não deixe de ser crítico.)

Dito isso, podemos partir para a teoria. O ensaio será elaborado da seguinte forma. Primeiro, estarão as descrições de cada uma das dicotomias, destacando, em primeiro lugar, um cabeçalho que explica o funcionamento da dicotomia e, em seguida, descrições elaboradas dos dois extremos. Para os Temperamentos será igual: uma guisa seguida de descrições consonantes. Descrevem-se primeiro as essências temperamentais, sendo elas o Sangue, a Cólera, a Melancolia e a Fleuma. Em seguida, descrevem-se os Temperamentos principais e, da maior à menor frequência, suas dobras. Os contratipos foram deixados ao final de cada capítulo.

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