A Estátua Fátua — 04.05.24

Percebi que minha autossabotagem na verdade é covardia. Em vezes como quando não mergulho tão fundo quanto disse que iria, percebo que o desejo foi apenas uma fantasia. Eu tenho medo de me afogar, mas como eu saberia?

A verdade é que não sei nadar, e que o teu me parece um oceano, enquanto o meu me parece apenas um mar. Não sei nadar... Tenho medo de me afogar.

Em mim mesmo, não preciso saber, pois minhas águas são tão densas que já não me apavoro com o abismo de meu ser. Vivi quase toda a minha vida imerso nesse lago de decepções, mas sinto falta de boiar no rio de ilusões. Saudades, infância, saudades, inocência... Saudades, temperança, saudades, oh, pura inocência. Agora, falta esperança, não gosto dessa imanência… Às vezes, devo pedir licença… acontece que prefiro a existência.

Desejo águas mais doces e nelas salto sem pensar. Mas, quando estou quase além do limiar da mediocridade, sinto algo a me assombrar… É o medo de me entregar, e então de me machucar. Isso não seria me suicidar? Seria eu quem escolheu ficar. Mas não vou deixar ninguém me fazer matar! Se necessário, vou afastar… Não. Sei que é mentira. Em verdade, vou é me afastar, vou racionalizar, vou denunciar tudo o que encontrar, e não vou me permitir mergulhar. Digo-me um profissional nisso, mas, na verdade, não aprendi algo assim com o abismo. Não sei mergulhar, apenas afundar. Por minha densidade, estou preso somente em meu andar. Não sei desviar para os outros o meu olhar… Preciso me resguardar, ou meu mundo vai acabar. E só o meu!

Sim, o meu… Sem deus, sem plebeus, ou mesmo hebreus. Ele é repleto apenas dos pesares daquilo que nele falta, mas que há no teu. Não te posso deixar entrar, pois tu me assaltas, me arrebatas. E acho que prefiro acumular faltas do que acumular charadas e debandadas. Prefiro o sono ao abandono, o temor em lugar da dor e a severidade em lugar da afabilidade. Mergulhar não me faria perder minha identidade? Mas é verdade! Não sei mergulhar… e chamo disso o afundar. Para aprender a realmente mergulhar, ou para pelo menos começar a nadar, precisaria me livrar — desse coração rígido, amargo, e cheio de pesar. Valeria a pena me descascar a tal ponto? Ficaria demasiado vulnerável, sensível… e não sei se estou pronto. Mas sei que não vale a pena permanecer no ronco, sei que estou apenas sendo tonto.

(...A vida é curta demais pra ser torturado assim, mas será que seria tão breve para me permitir ser morto sem fim?...)

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