Delegado Infiel — 13.04.24

Padre, eu pequei. Vivi uma vida de desilusões, e falhei em perdoar aquele mais próximo de mim... Eu mesmo.

Como ele pode ser digno de perdão tendo cometido tantos erros? E como eu poderia ter o direito de viver se ele errou tanto? Tenho medo de destruir as coisas e pessoas ao meu redor. Às vezes me sinto o próprio espírito devorador.

Quando a lua descer e quando chegar a meia-noite, não tenho certeza se alguma estrela brilhará para mim. Há tempos não conquisto nem mesmo o meu próprio sorriso, então por que a noite sorriria para mim?

Padre, tenho medo da noite. Se não tenho nenhum sorriso por mim em meio a essa escuridão, como poderia me sentir seguro nesse vazio profundo?

O céu não me quer, e não sei se o inferno irá me aceitar. Hoje lido com a angústia de saber que vou apenas pairar sem consciência alguma em meio ao mar de nada, desacordado e de cara amarrada.

Fui um homem forte noutra idade... Talvez até um rebelde, na verdade. E não sei se a felicidade daqueles tempos me retornará em alguma outra idade. E como posso saber até onde minha estrada vai? Sinto que já estou ficando sem gasolina nessa caminhonete cheia de fardos de falhas, fracassos e sofrimentos.

Se ao menos carregasse comigo aquela linda bicicleta em vez dessas decepções... Eu pedalaria nela a plenos pulmões e ralaria os joelhos uma última vez! Algo que sarasse antes de casar!...

Mas eu não me casei, padre. Os joelhos ralados tornaram difícil meu vagar nessa vida. Já não posso cair; e, na verdade, já nem sinto que posso mais andar. Talvez tenha simplesmente chegado a minha hora de descansar... Não sei o que eu poderia desejar daqui pra lá.

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