Grito Amigo — 10.06.24

Silêncio, caro silêncio, por que gritas?

Por que esbravejas amarguras tão furiosas?

No medo e na dor de uma vida tão aflita,

Como pode a tua ausência tortuosa

Expor tanto a nossa alma rancorosa?

E as lágrimas não escorrem por meu rosto,

Mas na tua calmaria me sinto tempestade.

Em oculto, o deserto cheira a desgosto.

Não me torço e não engulo esta metade,

Não aceito um mundo tão insosso.

És duro. Temo mais a ti que aos berrantes.

O grito consegue ser mais suave — brande vida

Mas tu, oh vazio, destróis nossos amantes,

E do teu estrondo não existe saída.

Lembra-nos que somos perdidos viajantes

Nossa tola vaidade — coitada — é abatida.

Se iludiu na lâmpada da própria alma partida.

Escondeu num sorriso os nossos traumas.

Escondeu, de você, toda a nossa fauna.

E em meio a tanto grito, assustou-se a alma

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