Zumbi dos Pesares — 25.08.24

Zumbi andava por aí cheio de ressalvas.

Por um deserto de areias queimadas,

Carregava seu coração na mala,

“Pois assim ele não se arrebata!”

Já não se cuidava mais tanto depois da morte.

Seus cabelos sobre o rosto careciam de um bom corte.

Tinha os pés descalços e um desajeitado terno de má sorte.

Ele andava para o sul, sempre acreditando ser o norte.

Sua vestimenta preta soava uma classe desgasta,

Efeito de uma pobreza cheia de desgraça.

Achava-se rico em seu estilo, mas sem muita marca,

Via-se apenas a beleza naquilo que lhe falta…

Um solo mais fértil, não essas areias desbotadas,

Não essas plantas duras, disformes e malcriadas.

O deserto não lhe parecia ter charme algum.

Seu coração era nevasca, que não cedia ao terno de qualquer um.

O vivo que lhe quisesse deveria estar sempre bem-alinhado,

E de sete provas de fogo, buscaria sete chaves de gelo

Para abrir a negra maleta e enfim encontrar seu coração amargurado,

Abandonado, coberto de algas e sem águas que merecessem tê-lo

Sem as chaves e com o coração ali somente a negócio,

Seguia para o que achava ser o norte, atrás do verdadeiro amor,

Em busca do poder da própria palavra já em fóssil,

Desejando encontrar no mármore algum sereno amor dócil.

Livre de uma ansiedade surda ao peito escuro,

Recorrente às mãos do amor duro,

Temente ao toque e notadamente inseguro,

Desejando o toque e o sutil aroma de um amor puro,

Desejava queimar, mas já não mais era capaz de bradar.

Ao que lhe tentasse apunhalar, sentia apenas a decepção.

Seguia a sua direção, deprimido com seu lugar,

No qual já não mais havia nada para se encontrar.

Cortaram as raízes de seu rubro fulgor,

E a densa mata deserto se tornou.

Saíra então vagando em busca do que nunca encontrou.

Talvez seja a falta de luz o que o matou, ou talvez

Tenha sido ele mesmo quem se abandonou.

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