Cebola Pimpolha — 19.07.24

Li um diário de dilaceradas páginas lamuriosas que me faziam chorar

Com tantas camadas rancorosas, que até pude me afogar

E, calando-me, enrolei-me sob as infinitas peles transparentes

Da cebola do meu passado cânone — doloroso e irreverente

Enrolei-me — nas transparentes páginas do diário do amanhã de ontem

E, sob as amarras de cinco espetados fios de esperanças e ardis ideias,

Remoí para que me achassem e, enfim, retornassem-me a Pompeia

Pois fui engolido por suas lágrimas sofridas enquanto me tentava cortar

E agora, defendo-me com mau cheiro e agudo odor

De todos aqueles que me tentam dissecar sem fazer chorar

Por sob tantas peles transparentes, sinto que me tornei invisível

Sob a torrente de lágrimas, escondo meu fogo intransponível

E somente em seu fluxo choroso eu sigo sem qualquer reação

Boio na falsa vida de ternos sofrimentos e de pobre imensidão

Tentando não pensar na cachoeira de alegrias geladas e altas quedas

E assim, fechou-se essa sacola fétida

Lacrando-se, com cinco fios de arrogância

Querendo chamar do chorume seu licor

Embora também veneno de constante ânsia

A impedisse do verdadeiro ardor

Mas preferi ser ogro que princesa

Ainda que a chama não se mantenha acesa

Encontro conforto no frio pântano de minh’alma

E segurança em minha represa

Last updated