Brado Inflamado — 11.06.24

Às vezes, não só em dor, devemos gritar,

Para que o mundo se lembre de que existimos.

No fim, talvez só o grito possa nos curar.

E ao tinir, admitiremos que mentimos

Para nós mesmos, e quiçá ao duro mundo —

Com desejos tão medíocres e ideais tão imundos.

Por todo o sempre estaremos em silêncio,

Então por que perder tempo? Serei intenso,

Tanto quanto me queira, neste mundo a que pertenço.

E juntos — oh mundo! — inflamaremos nosso veneno,

Então seus reinos finalmente estarão serenos.

Alcançaremos, enfim — oh —, o céu terreno.

Só no grito, então, libertaremos nosso canto

E no seio de Teão, mamaremos d’um amor santo

E nutriremos nosso recanto, livre de telhas de amianto

Não seremos mais Sanchos, recuperaremos nosso encanto

Libertos de todo o pranto, salvaremo-nos sob o manto

E pela primeira vez em tanto tempo, estaremos sarando

Da queda, dos joelhos ralados, dos sonhos rejeitados,

De espíritos amuados e de corações execrados.

E nas almas manchadas uns dos outros, seremos timbrados.

Então não importa deixar eco, não importa ser lembrado,

Nem se foi humilde ou abastado, bem construído ou dilacerado,

Para ser abençoado e perdoado, basta ser amado.

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