Urion — 06.08.24
São chamas negras que mais parecem fumaça
E talvez até sejam mesmo, visto que já morreram
Não há brilho, apenas fosca carcaça
E já não importam as chuvas que descerem
Porque, ao morto, a vida já não mais é ameaça
Não há mais sonhos ou labaredas para o renderem
Não faz música — toca irado silêncio endurecedor
O menino sorridente vê sua vontade assassinada
Não importa o quanto tente ser encantador
E, sem amor, cai a máscara de forte juba inflamada
Afunda em seu rosto a carranca do pensador
E nas entrelinhas do fogo, já não se diz mais nada
Cinzas densas e rasas tornam-se interrogação
Girando dentro de si mesmas durante a ruminação
A espiral faz o deprimido sentir-se infinito
Mas o feliz só deseja viver do ombro amigo
E quando se nota, o triste some sem aviso
Mas percebe: talvez nem mesmo tenha ido
Pensou em mil mundos confusos e ordinários
E em nenhum deles conseguiu avistar o cupido
Criança que roubou a seta de seu coração precário
E ao mirar do mundo, tornou-se mármore inesculpido
Mas em si, estava perdido em fantásticos cenários
Coloridos, mas insuficientes ao coração partido
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