Flor de Naufrágio — 28.06.24
Gritos tão serenos e adornados fazem-me acender o veneno
O mundo, por breve, não mais me parece chato, não me sinto tão terreno
Sinto-me estourando em luz de fado, como se fosse fogos de artifício
A chama me ascende a brado, e seu brilho torna-me falso lírio
E é difícil aceitar as verdades de minhas mentiras de outono
Mas só elas ajudam no choro dessa flor negra como naufragado oceano
Lacrimeja dobrando seu pescoço ao desesperado e sereno sono
E acorda sem retorno, pois as verdades de si mesmo não têm contorno
Segue então enrolada sob os escuros edredons de suas pétalas
Fortemente aspira a ter o grande dom, mas nunca dá as cédulas
Pensa que ninguém é digno de seu doce batom, e se guarda há décadas
Abriga-se docemente no amargo morrom, aguardando sua pérola
Tanto sangue concentrado no baluarte lhe enegrece as toalhas
Mas nunca seca o banho de sangue de sua arte; valoriza-o como medalha
Da dureza de seu sangue se esclarece seu contraste, e constrói muralhas
Pela fragilidade do cristal jade, veste sua pesada mortalha
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