Bolha nos Corais — 09.04.24

De repente, sinto-me cheio; no entanto, vazio. Vejo que o peso em meu ser não vem de uma riqueza de sentimentos e emoções, mas justamente da carência da experiência deles.

O peso é imenso, e quero escarrar no papel, pela ponta da caneta, os pesares deste tão profundo sofrimento. E observo: o vazio me preenche, mas não me permite ser completo. É a matéria escura da minha existência: não sei o que é, mas é crucial em meu destino, em meu caminho, em minha expansão e em minha vida.

Acontece, portanto, que estou transposto para fora de meu interior. De fora, tateio uma esfera escura em meio ao oceano que realmente me faz existir. E o que há por dentro, por detrás ou por sob a barreira? Sequer consigo imaginar.

Enfio meus braços na densa bolha de desconhecidos e Inconsciência. Toco aquilo que há dentro dela, fazendo força contra seu tecido e tentando imaginar a partir das formas que sinto sem enxergar.

E, quando vejo, a tinta escura parece não ter fim: manchei meus dedos, mãos e até braços. Posso nunca comentar da bolha para os pássaros que vejo na superfície do oceano, mas meus braços: gritam em sua negritude. Pois é isso o que acontece: no preto há a verdade, e esta é excretada para todos. Suamos nossas dores em sorrisos torturados.

A cada dia que passa, no entanto, a bolha não parece diminuir, não importa quanto eu me suje e espalhe dela. No final, a cada dia há mais petróleo; e resta a dúvida: deveria usar do petróleo da minha pureza para acender chamas em meu coração já manco?

Quer amigo, quer marido, quero apenas que me salvem do perigo. No conforto do seio e da alma, espero me tratar de todos os traumas. Mas, no fim: sou meu próprio inimigo.

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