Homomorfo — 10.04.24

Se for bem pensar, as tipologias foram os funis que achei para alinhar o meu comportamento. Como um cientista louco, tento mentalizar a partir dos traços que observo qual é a composição e a natureza de uma pessoa.

E então, a questão mais importante da minha vida social vem à tona: como devo me comportar? E como melhor posso persuadir o meu interlocutor? O que posso tirar dele para unir a mim sem que ele perceba e, portanto, se enraiveça? O que de positivo uma relação entre o eu e o tu pode valer? Não assalto, mas sou um larápio da indentidade.

Quando meu pensamento amorfo, substancial, não sabe que forma tomar para ser devidamente interpretado pelo mundo, eu surto. Está tudo bem se eu for a massa amorfa e escura em minha solidão, e isso é o que eu sou — mas, se assim for, então não posso, de modo algum, para o outro ser quem sou.

Eu entendo as formas na bolha que toco, mas ninguém entende minhas marés e meus corais...

Não quero alugar espaço no coração de ninguém, nem na terra de qualquer lugar. Quero me estabelecer e morar, sem precisar me preocupar se estou deixando a pessoa respirar. Quero sintonizar a respiração, e saber que regulamos um ao outro.

Não quero funções fáticas, não quero contato breve e sem significado: Não! Quero afundar e me mesclar com as marés do outro e do objeto. Quero levá-lo comigo, mas não só no souvenir da minha memória e do meu sentimento: quero-o, desejo-o, ao lado, e não no vazio de minha alma. Preciso me hidratar de sua identidade doce para me salvar do sal em mim mesmo; e não lhes quero junto à minha poluição, quero-os purificando as águas do meu coração.

Por favor — peço-te... não! imploro-te! —: não seja um visitante, seja um vizinho. Não vá embora, não me deixe sozinho — eu não coube em meu ninho e, mesmo com o tempo que passou, ainda me sinto pequenino. Tempo! Sim, eu só preciso de mais tempo! Não se leve pelo vento, e não se incomode com meu ritmo lento. Seja — por favor —, seja meu alento. Te ouvirei, atento. E, se incomodar, juro que não lamento. Esconderei no silêncio meu sofrimento, e na distância meu remendo.

Sou fraco, e construir uma casa demanda tempo. Quero-te, então, que me permita usar minha pouca coragem para erguer e reunir os pesados tijolos, um por um. Podemos morar juntos e desfrutar do conforto da mesma caverna. A vida não é eterna, infelizmente, não é não. Mas, se construíres o lar comigo, tempo nenhum será em vão.

No entanto... como sei que posso confiar em você?! Como sei que não vais ceder?! Como sei que não irá me desentender?! E o que mais eu haveria de temer no desejo de beber do teu seio forte o cálcio que falta nos ossos do meu peito?!!!

Last updated