Abrigo Ferido — 14.05.24

Sinto fundo no meu peito o peso de não gozar. Mas acho que tudo bem broxar — talvez isso seja crucial pra poder enfim desabrochar. O que importa é permanecer forte e não me permitir deixar de escalar. No fim, talvez seja necessário imaginar: Sísifo feliz, sem medo de despencar, tentado a fracassar — pra só assim poder melhorar.

Caí, e agora sei que não quero ler; quero entender — ao outro, e a mim, mas tudo começa com um broto no jardim. Sou árvore, mas queria mesmo é estar de plantão — só que tenho medo de algo grave, então cubro meu tesão. Tenho medo de bater na trave, tenho medo da obrigação... e da pressão de ajudar a saberem e serem quem são.

Mas sequer vale a pena sonhar, desejar, almejar esse caminho? Se só faço tomar deste vinho (quando estou sozinho), por que continuar no ninho? Prefiro ser dilacerado a ferro e fogo do que afundar sem que o mundo escute meu rogo.

Sou corvo, e não gosta de mim o povo — escrevo com minhas penas negras aquilo que sangro; não sou fênix, mas quero renascer e tornar-me novo... E não quero botar ovo! Não! Quero me soltar do lodo. Pois foda-se o povo! Sou corvo — é isso —, e não vou abrir mão do voo.

... Te amo, papel, mas não posso sair do corpo — preciso me mudar para o quartel se quiser aumentar meu escopo.

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