Abelhudo — 16.04.24

Não sou solteiro nem amante, mas vivo, constante, à beira de um divórcio comigo mesmo. E neste instante, não abro o coração. Me fecho por inteiro e entro em depressão.

Não me deixo domar pela tentação e me seguro em completa tensão. Contra o mundo e contra vida, contra mim e contra a avenida, tenho medo de atravessar — e, mentindo, digo-me que não quero do outro lado chegar.

Tenho vontade de abrir, mas não posso me permitir. Não o conheço por inteiro, e por isso não posso me abrir primeiro. Eu sou verdadeiro. Mas e ele? Ele não seria traiçoeiro? Talvez exija mais ter sido e continuar a ser o bombeiro das chamas do meu coração do que simplesmente entregá-lo no tabuleiro. Deveria proteger a rainha mantendo-a fora do jogo, ou apenas permitir-me embebê-la em fogo?

Diante de um gigante, tento proteger meu presente embalado. Minha salvação? Ficar distante, ser desconfiado. Sou diminuto, e tenho medo do sobrecrescido. Choro de medo, e não consigo distinguir se ele é amigo ou inimigo.

Ele é grande, e eu pequeno. Um inocente, e eu um veneno. Parece que, na verdade, não tenho medo de ser atacado, mas tenho medo de ser tocado. Tenho medo de ser refutado em meu temor, de ser aberto e livre de meu próprio pudor. Como eu poderia ser forte sem as correntes que carrego? Mas mesmo sendo forte, ainda sou um tanto lerdo...

Se eu fosse tocado, feriria a carne de meu apreciador (se não investigador); como uma lagarta de fogo, como uma brasa quente. Jamais teria atendido o meu rogo por alguém que me alente. Alguém não contente, mas veemente. Não por um momento, mas para todo o sempre.

O gigante aparece, e eu me enterro em minha cova. Não quero aquele que me acomete, não quero uma vida nova. Não quero esta melancia, quero uma uva doce e densa. Não quero maçã ou condessa, nem paixão nem avareza. Quero alguém que sempre comigo cresça. Não quero alguém que vença, quero alguém que me convença, e que não cause desavença.

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